11.12.08

Atualizar a vida

Um cara que nunca considerei muito me disse hoje: "pense que o seu trabalho irá ajudar o maior número possível de pessoas e a entrevista irá ser perfeita". Engraçado, era o que eu pensava há seis anos atrás. Por que isso hoje me soa fantástico? Era algo dado para mim querer ser útil. Era uma obrigação ser útil. Era o fim que tinha posto para minha vida, ser útil. Me choca saber que mudei tão depressa. Troquei por tão pouco meu valor que julgava me definir e me distinguir. Em troca, recebi um vazio.

Meu amigo sugeriu que eu atualizasse esse blog. "Sim, ele será atualizado sempre." Aqui entrará só o que e quem me faz bem.

2.12.08

Bem, passou por mim de mãos dadas. Do banco lhe observei subi a escada e sumir. No banco permaneci imóvel. Fui para casa. Existe uma hora que escrever é difícil. Quando não há contraste entre eu e mundo e qualquer palavra sou eu. Esforço-me para não dizer seu nome. E me esforço mais ainda para fingir que não me importo. Essa poesia de tarde, sob este sol, esta montanha de coisas para arrumar, esta pilha de papeis, estes livros insuportáveis, estas teses, você que não me deixa seguir. Ainda penso em você todos os dias. Sei que não me procurará. Sei que não irei te procurar. Sei que é um caso perdido.

Vou tentar dormir neste resto de tarde. Quem sabe sonhar.

26.11.08

Cabe no meu blog, sin!

ME PEGO PENSANDO COMO

Como ela vem. Como está sendo o seu banho exatamente agora. Como ela ta cheirosa, mas que sue um tiquinho no camiño para dosar na conta, nossa! Como ela se olha no espelho na hora de se trocar. Como. Como ela fez o barulhinho do elástico da calcinha, pleft, a mais linda onomatopéias das moças. E nas vitrines da rua, como será aquela rápida mirada, extrato para simples conferência demasiadamente feminina. Como ela brigou com o cabelo hoje, porque em alguns dias os cabelos teimam em desobedecer às mulheres, sejam eles como forem. Como ela encarou o armário. Como enfiou a colher no papaia logo cedo antes de todas as acontecências. Como ela blasfemou contra o universo. Como ela disse “ai," ao teléfono, "mãe, num se preocupa, eu já estou grandinha”. Como os homens a olharam no percurso, que os homens do andaime não assobiem um “gostosa” hiperbólico, sob pena de ela se achar cheinha deveras, mas que assobiem alguma coisa, que não pequem por omissões – ah, não, são homens de verdade, não trabalham com elipses. Como ela deu aquela ajeitadinha nos peitos, agora já recuando para o começo das ações, o espelho. Como ela roçou um lábio no outro para corrigir o batom e dosar na maldade. Como ela decidiu por sandálias e não por sapatos ou tênis. Como ela pôs o rosto na janela para ouvir o homem do tempo. Como ela deu aquele saltinho na rua de moça feliz por hoje. Como ela achou que o celular tocava dentro da bolsa só porque eu pensava nela e não era nada pouco.

Xico Sá

22.11.08

Insustentável e cerne

Nesta dada situação, coisas insustentáveis perdem sentido e se tornam perfumaria. Coisas dadas tornam-se incertas e se revelam o cerne da minha vida. Essa descoberta pouco resolve, o cerne e o insustentável não estão sujeitos à minha vontade e braços. Tudo não passa de brincar de apontar. Tudo é uma grande brincadeira.

17.11.08

Veja o dito do rei.

Daqui em diante o tempo de semear e de colher, o frio e calor, o verão e o inverno, o dia e a noite não cessarão enquanto a terra existir. Dito por um rei e citado por um filósofo, a alternância de estados é um decreto divino que desde Noé a todos curva. Veja como é indubitável quando te odeio ou te amo. Semana passada estava à sua procura e, hoje, bastaria-me apenas lê-la.

Estou no mundo como meu coração está em meu corpo. Mais ou menos assim é a frase e completamente assim somos. Quando estamos no mesmo ambiente não há cálculo. Distanciamento só em tese. Se há, escolhemos a pior das alternativas, a melhor para se arrepender.

Vou aproveitar mais as minhas palavras para além daqui.

notas de um dia de cão. esse é o nome do livro. um livro a duas mãos.