19.8.06

Je crois entendre encore
Caché sous les palmiers
Sa voix tendre et sonore
Comme un chant de ramiers.
Oh nuit enchanteresse
Divin ravissement
Oh souvenir charmant,
Folle ivresse, doux rêve!

Aux clartés des étoiles
Je crois encor la voir
Entr'ouvrir ses longs voiles
Aux vents tièdes du soir.
Oh nuit enchanteresse
Divin ravissement
Oh souvenir charmant
Folle ivresse, doux rêve!

Charmant Souvenir!
Charmant Souvenir!


Je crois entendre encore - Les Pêcheurs de perles; Georges Bizet (1838-1875)

17.8.06

Vamos iniciar um diálogo. O Primeiro passo pode ser estabelecer um tema. Pode ser uma questão que atormenta - isso rende bastante:

“Oi!” “Oi!” “Que bom te ver! Tenho que te dizer uma coisa: uma questão que me atormenta é saber se você tem uma questão que te atormenta.” “É claro que tenho, é a mesma que te atormenta!” “Ótimo!”

Ambos possuem uma mesma questão que os atormenta e já têm consenso sobre o que é. A hipótese mais plausível é que já se conhecem de algum lugar. Também é muito importante que já tenham chegado a um consenso antes da chegada de questões nominalistas que surgem sempre junto. São formas de vida.

Entre duas pessoas que nunca se viram é mais difícil sustentar uma conversar desse tipo. Apela-se para um contexto mais amplo. Compartilham não um conhecimento de cor, de coisas mais intimas como questões que atormentam – seja lá o que possa ser isto – mais certamente regras de boa conduta com estranhos – ainda mais se forem ambos belos estranhos - e assuntos corriqueiros que as pessoas normalmente conversam com qualquer um:

“Oi! Sabe a que horas passa o próximo ônibus?” “Bem, eu não sei bem, ele sempre se atrasa a esta hora do dia, mas acho que agorinha ele passa.” “Também tenho um problema parecido com o ônibus do meu bairro. É chato esperar, não é?” “Todos os dias este ônibus se atrasa, qualquer dia eu perco a paciência” “Depender de ônibus é triste! Depois reclamam quando quebram os ônibus!” “Qualquer dia faço uma besteira!” “Sabe o que tenho vontade de fazer todos os dias? É pegar uma arma, por o motorista e o trocador para correr e depois por fogo em tudo até não sobrar nada!” “É mesmo... sempre quis fazer isso também!” “Qual o seu nome?”

Um diálogo não é das coisas mais complicadas. Se bem que se possa imaginar o diálogo entre duas pessoas que além de não se conhecerem não sabem se realmente estão a conversar. É bem provável que compartilham significados mais gerais que permitem a sobrevivência entre estranhos sem terem que entrarem na mente de ninguém. Neste caso “estranhos” talvez deva ser qualificado com “formalmente”. Suponha que alguém escreva numa calçada um equação matemática e você com um pedaço de tijolo a resolva. No outro dia há uma nova equação mais difícil e você a resolve. Quando você solucionou a primeira equação se ligou a quem a formulou. Estabeleceu-se um diálogo e a intenção de alguém em formular uma equação para uma pessoa que sabe matemática e que voltou no outro dia esperando uma nova equação de alguém que sabe formular equações matemáticas e, que de agora em diante, as formulam para você. É óbvio que vocês dialogam sem se conhecerem formalmente.
Em que momento posso dizer que conheço alguém? O critério é a quantidade de coisas que se sabe do outro ou é uma intuição, digamos de cor?

Como é ou quais são as formas de se começar uma conversa? Já conversou por olhares? Os que se olham sabem-se. Você já recebeu uma carta sem esperar, como o telefone que toca quando estamos distraídos? Taí um bom motivo para conversar.

Você estava mais bela hoje, mesmo o vermelho não sendo a melhor das cores. Sinto ter sorte de ser tão bela.

notas de um dia de cão. esse é o nome do livro. um livro a duas mãos.