3.1.08

Amanhã

Amanhã não terá nada de inesperado. A viagem será para um lugar que nunca viu nem em foto. Chegando lá irá armar a barraca ou irá para uma pensão. Um cochilo ou uma pequena volta pelas proximidades é o que fará. Procure reparar se há mofo nas paredes do quarto, se a janela range ao ser aberta, se a toalha está sobre a cama, se tem um cinzeiro – espero que não haja. Pela a pequena volta tente convencer-se que foi uma boa escolha aquele destino, se tem bastante verde, alguns bancos para descansar as pernas, um lugar para compra cigarro – espero que não encontre e tenha que queimar bastante combustível para comprar. Bem, o que se faz depois? Sabe, não terá nada de inesperado. Correremos em busca do diferente, de cachoeiras, igrejas velhas, pessoas felizes e dignas e, de preferência, pobres. Vamos esperar a noite e ir até aquele bar que o pessoal da região recomenda. Mulheres gostam de forasteiros, não é verdade? Vamos pedir as especialidades e beber a bebida dos nativos. Isso talvez seja o mais diferente que podemos experienciar. O álcool e a carne possuem o dom de se mutiplicarem em sabores e multiplicar a vida. Já não tenho tanto certeza quanto às pessoas que se pode encontrar. O que vejo nos olhos de todos os lugares é algo que vejo nos olhos do espelho. Mas retornando ao que imagino que faremos nesta viagem, peço que não sejamos os mesmos que planejaram irem ser os mesmos em outro canto. Nossas conversas fúteis e maledicentes não terão mais graça com um cartão postal ao fundo. Mais uma coisa que só fazemos. Aquelas migalhas de felicidade que não vemos e corremos atrás não estão escondidas em uma gruta ou num calçadão. Outra coisa que já aprendi, partamos antes que alguém de lá nos aponte o dedo, se não quisermos a amarga sensação de que fomos para o lugar de onde saímos. Lá não é onde o belo deve estar, estamos combinados?

sobre a escrita: Não adianta criar mundos que você não poderia pisar. Não adianta criar mundos que outros não podem pisar.

1.1.08

Coisas surgem... sem pressa.

Surgiu na minha cabeça há dois meses atrás.

Quieto a ficar pensando quando estou decidindo o que fazer depois de acordar, quando não trabalho, e depois do almoço. Vejo o indivíduo descer a minha rua, pegar o seu ônibus e tudo começar. Este não desce no ponto de sempre, na verdade é nesta escolha que tudo começa. Ele subitamente decidi bater na porta de quem nunca o esperava. Não podemos saber como será recebido porque não sou eu que escrevo a história de quem receberá a sua visita. Pelo que consigo antecipar, a reação será tão inesperada quanto a sua visita. Ao final daquela noite ele acordará com a cabeça ensangüentada e dentro de um carro que se acabou numa árvore. Não consegui entender o que tem haver a visita à moça e quase perder a vida num acidente e nem o que é aquela mochila cheia de papéis sujos de graça e dinheiro atrás do banco do carona. Bem, espero explicitar muitas coisas ao fim deste texto, coisas que nem nosso indivíduo saberia dizer e que nem eu poderia supor sobre os móbeis que movimentam os homens. Criou diversas estratégias para persuadir aquela moça e nunca de ir até a sua casa. Não criou, nem mesmo pensou. Em uma fração de tempo sua mão tornou-se mais pesada e puxou a corda que dá sinal para o motorista parar o ônibus e com a porta traseira aberta diante de si desceu como se alguém lhe empurrasse. Não pensou: “Vou dar sinal.” Atos insignificantes abrem portas. Mas atos insignificantes fazem com que encontremos um dedo anular dentro duma mochila cheia de papel engraxado e notas de cinqüenta? Certamente um ato dentre milhares e milhões que se acumulam na história de cada indivíduo faz com que sua vida dobre uma esquina e não retorne. Se uma viatura encontrasse o rastro do carro que desceu ladeira abaixo espatifando numa frondosa árvore e aquele dedo em seu poder não saberia explicar nada do ocorrido e dificilmente acreditariam nele já que nem alcoolizado estava. Não é uma história simples e nem próxima de revelar algo. Sobre o dedo, também não faço idéia. Ele não é das melhores pessoas deste mundo. A sua bebedeira é aceitável, até lhe dá um charme. Quando adolescente praticou vandalismo. Já se envolveu em muitas brigas. Alguns o consideram racista e homofóbico o que ele não aceita: “Tenho amigos negros e um amigo bicha”. Nasa disso, no entanto, permiti-nos inferir que pode ter arrancado o dedo de alguém ou algo pior. Os atos não precisam de bilhete para mudar a vida de alguém. Não importa quem arrancou e por que o dedo com uma aliança com o nome de uma mulher para que os dias de nosso indivíduo tome um rumo inesperado por todos. Temos duas mulheres nessa história: a que ele ama e a que o cara sem dedo carregará ainda por um tempo antes de perdê-lo.

Este é um trecho do prefácio de uma longa história.

notas de um dia de cão. esse é o nome do livro. um livro a duas mãos.