24.5.07

Lembra do dia no qual não comeu nada?
Dificilmente lembrará.
Não creio que já tenha passado por esse dia.
Certamente eu não passei.

Na minha cama falta alguém.
Já os meus dias são cheios de pessoas, ombro a ombro.
Não que seja ruim, só que são, ao fim do dia, só pessoas.
Assim mesmo tenho sono e a cama ainda é confortável.

Certamente alcancei a idade na qual as coisas - que ainda são coisas por falta de universais - permanecem.

20.5.07

Quando cheguei me senti como sou, só. O momento em que cheguei foi o momento em que senti a solidão me expulsar de casa. Quis retornar para a viajem. Fugir novamente de casa (...) Me sinto só não pela falta de proximidade (...) Sinto falta de alguém que sinta só pela falta de sua escolha, eu. Alguém que me escolheu dentre todas as proximidades. (...) A minha solidão vem, também, da percepção da dispensabilidade. Não faz diferença que eu vá e não volte. Não faz diferença. Sinto com peso insustentável a escolha que fiz e a liberdade de não ser a escolha de ninguém.

Palavras com as quais se balbucia tudo: distância, falta, dor, descanso, tempo, angústia, sono, compreensão, tristeza, desejo, alegria, euforia, morte, ansiedade, paixão, necessidade, depressão, lembrança, esquecimento...

Quem conseguir estabelecer as propriedades formais da ação ou da práxis comunicativa que une eu e você, que novamente não respondeu a minha mensagem e me castiga a cada vez que me olha, terá em mãos a maior das histórias.
Tarefa que creio impossível e nem mesmo tarefa.

notas de um dia de cão. esse é o nome do livro. um livro a duas mãos.