Subo até o quarto andar e abro a sala 4224. Inicio meus trabalhos às sete da manhã. Bruno chegará em breve. “Cê veio cedo hoje?”, é coisa que ele pergunta. Tenho acordado cedo todos os dias há mais de mês para compromisso algum e quero transformar isso em hábito. Quanta calma. Ponho-me a olhar daqui de cima para o jardim onde Kant observa atentamente o banheiro feminino. Esse sábio escolheu seguir imperativos que o transformaram em busto e agora segue os imperativos que seguem bustos. Tenho que pegar a garrafa de café. Quero todas garrafas de café do mundo e o correto é pegar apenas uma de “CAFÈ C/ AÇUCAR” que as moças põem pela manhã. Bobagem manter essa idéia. Não consigo tomar tanto café e tenho o hábito de tomar cafezinho de manhazinha que não surgiu do gosto de queimar a língua. Não me esbaldo antes pelo limite de meu corpo e hábitos do que pelos meus valores. Bem, já estou bebericando meu café e observo da janela da sala de trabalho os filhotes de gatos brincando entre as plantas da outra porção de jardim que o prédio possui. Gosto mais das gatas e tenho uma de três cores. Nesta hora gatos e seguranças são elementos como as plantas e bancos de concreto. Vejo um jovem braço correndo. Os alunos estão chegando. Centenas invadem o prédio. Milhões invadirão este campus! Algum se tornará um busto de ferro? ... Certeza é a de que o dia está começando, definitivamente, e a beleza de um mundo que existe somente quando os homens dormem só terei na madrugada de amanhã, quando despertarei. Talvez não amanhã porque hoje irei atrás da beleza de um mundo onde os homens não querem dormir. Nesta noite posso encontrar a beleza inscrita em meu corpo e hábito e que é meu corpo e hábito. Poucos anos de você fizeram isso comigo. Está na hora de trabalhar. Antes, irei olhar o e-mail e visitar um blog. Suponho que irá escrever algo.
