18.11.11

Poder, grana e um pouco de futebol

Sem moralismos, dinheiro e política, andam tão juntos que fica difícil delimitar o que é próprio de um e de outro no alcance de quaisquer fins. Quando focamos no tipo do cartola, o futebol torna-se lamentavelmente, aqui com moralismos, uma instituição a mais a ser considerada em nossas análises sobre o Brasil. Essa figura possui em suas mãos um recurso simbólico e financeiro impar, utilizado com maestria por alguns. Um texto do Juca Kfouri do dia 10 deste mês é de interesse na discussão.

Lamentável é a posição do Cruzeiro 
Diz o Cruzeiro que é “lamentável” que o Santos tenha decidido ir com os reservas para Fortaleza onde enfrentará o Ceará neste fim de semana. Tudo porque o Santos começa a poupar o que tem de melhor com vistas ao Mundial de Clubes no Japão. Ora, lamentável é o Cruzeiro estar na posição em que está, graças a um cartola que enriqueceu à custa do clube e que o abandonou depois que obteve imunidade senatorial num golpe articulado pelo ex-governador das Minas Gerais. Lamentável é o Cruzeiro ter ficado sem estádio para jogar em Belo Horizonte, graças à irresponsabilidade e incompetência de quem prometeu que o estádio da Independência ficaria pronto para substituir o Mineirão. Além do mais, como muitos já lembraram aqui, o Santos, porque enfrentaria em seguida o Peñarol pela Libertadores, jogou no primeiro turno, em Sete Lagoas, com seus reservas contra o Cruzeiro, que não reclamou, embora também não tenha vencido, só empatado, 1 a 1. O Santos tem de olhar para seus interesses e ponto final.

O Perrella é um cartola que com conseguiu não somente enriquecer, como adentrar no sistema político e rapidamente ir para o topo, ocupando uma cadeira do Senado. Bem, pode-se argumentar que o fato de ter conseguido montar um bom time durante gestões passadas o legitimaria a aceitar como prêmio um cargo político dos torcedores de seu time, mesmo que dúvidas sobre o legado, ou custos de longo prazo, que pode ter imposto ao time. O fato de feito isso nas costa do Cruzeiro é só detalhe aqui. Por exemplo, do outro lado há o Alexandre Kalil, cartola do Atlético Mineiro, que não me surpreenderia se qualquer dia aparece-se barganhando com sua imagem no mercado político como um político, precisamente como candidato a deputado federal. Como todo bom cartola, já deve negociar sua influência crescente sobre a torcida atleticana nos bastidores de um PSDB. O video abaixo é uma amostra do que digo e que Kalil e Perrera são farinha do mesmo saco - como também são um Andrés Sánchez e uma Patricia Amorim.


Observem que a coisa só cresce quando ampliamos os atores e instituições envolvidas: CBF, ANAF, o esfacelado clube dos 13, federações estaduais de futebol, os campeonatos estudais, nacionais e internacionais. Nesse vasto mercado, a fazendo de 60 milhões do Perella é mato. Os 420 milhões de impostos para o estádio do Corinthians, só não causam espanto maior que os quase 2 bilhões, até o momento, para as obras da copa. Não há como não voltarmos, quando se começa a pensar o futebol, para o dinheiro e o poder que garante sua concentração.

O futebol é algo que possui sua beleza e peso na formação moral brasileira - tem quem não goste, tem quem é indiferente, porém quem acompanha, gasta tempo e grana é a maioria. E isso não vai mudar tão cedo.

17.11.11

Preguiça e não sono.

Falemos a verdade. Se eu fosse um escritor não estaria num blog - já descarto o tal do poeta porque realmente não tenho saco para poesia. Mas quando sou, não dou a mínima para o blog. Não leio blogs porque sempre são bobagens pessoais sem nenhum sentido para mim, além de serem muitos bem pretensiosos. Sempre me interessei por opiniões sobre coisas que não coisinhas cotidianas. Convenhamos, quem realmente acha que sua vida pessoal é algo que deva atrair a atenção alheia imersa num mundo tão extraordinariamente surpreendente? Ok, esse mundo é um agregado dessas bilhões de pessoas insignificantes. Sim, mas o agregado em pouco se assemelha a essas vidas isoladamente. Opa, temos aqui uma grande sacada: quem puder descrever essa linha tênue entre nossas vidas sem muita graça com o todo fará literatura de verdade e ciência. Mas se ficar somente de um lado ou de outro, ou no meio, será outro delirante sem apelo a percepção ampla. Um pouco de objetividade é igualmente importante, não podemos compartilhar significados sem ficar apelando demais para que haja uma correspondência imediata entre nossas sutilezas e o entendimento do leitor. Mesmo que boa vontade e imaginação exista do outro lado, ambas fundamentais, a inteligência, que é o que da consistência na leitura, falta bastante. O nível no geral é bem baixo e não se pode esperar muito. A maior audiência sempre são de textos que se utilizam da ignorância de nossos leitores - e nem tô falando das asneiras do povo colorido e semianalfabeto da comunicação social. Estou falando de quem tem astucia de utilizá-la: sim, ela existe e pode ser canalizada. Não há sutilezas literárias e cotidianas que valorizam o texto e a inteligência do leitor nesse mundo. Por isso me mantenho firme em não desperdiçar com eles meu tempo mesmo gostando muito de ler.


Poderia esticar isso por muito mais linhas. Mas a preguiça é tanta que irei voltar para meu livro que lá para os quarenta conseguirei terminar.

notas de um dia de cão. esse é o nome do livro. um livro a duas mãos.