Fique à vontade. Sente-se e apóie seus pés sobre a pequena mesa à sua frente. Daqui irei lhe desenhar. Não irei desenhar o rosto mesmo não tendo que decidir a cor dos olhos, já que a tinta é apenas negra, e nem a cor dos cabelos, já que são negros. Não tenho este dom. Resta-me o seu pequeno corpo. Só sei reproduzir simples. Ficará simples. O traço da tinta negra sobre o branco do papel dará a sua cor, a mesma dos dentes sobre o fundo negro e úmido da boca. Uma tatuagem. Teu colo. A mão que abraça o livro. O livro como extensão de teu corpo. Teu corpo como traço. Teu corpo não é um traço. Compreendê-la é um desafio e não só curiosidade. Não posso além de traços. Sozinho posso muito pouco. Do alto não há compreensão. Não se compreende sem contato. É do contato que há. Só, não compreenderei os limites do que posso traçar, o que me é possível. Não vá embora antes que eu a compreenda. Não vá embora antes que você me compreenda. Não vá embora antes que eu desça a escada. Não vá embora porque desci a escada e você não estava mais sentada com os pés sobre a mesinha. Não vá embora antes da compreensão que não houve.
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