12.1.06

já citei como anônimo:

"Muito barulho à , por nada". Por nada. Essa vida era-lhe dada à toa, ele não era nada e no entanto não mudaria mais. Estava formado. Tirou os sapatos e ficou imóvel, sentado no braço da poltrona, uma sapato na mão. Sentia ainda no fundo da garganta o calor ruivo e adocicado do rum. Bocejo. O dia estava acabado e acabava sua mocidade. Morais comprovadas já lhe ofereciam seus serviços. O epicurismo desabusado, a indulgência sorridente, a resignação, a seriedade de espírito, o estoicismo, tudo isso que permite apreciar, minuto por minuto, como bom conhecedor, uma vida malograda. Tirou o paletó, pôs-se a desfazer o nó da gravata. Repetia bocejando: - Não tem dúvida, não tem dúvida, estou na idade da razão.

Sartre, A idade da razão

Nenhum comentário:

notas de um dia de cão. esse é o nome do livro. um livro a duas mãos.