24.12.07

Murro em ponta de faca

Um ano de muito murro em ponta de faca. Quanta sanguera! Pelo menos ganhei uma grana e comi algumas bucetas, nada de nobre, apenas necessidades. Não que eu não quisesse uma buceta apenas, é que ela não me quis, sei lá por quê. Por que os porquês? Estou vivo e é o que interessa. Nunca irei me arrepender de não ter escrito tanto a fundo perdido. Desde o início saquei que seria muito esforço para nada e continuei assim mesmo em nome de um “ela realmente vale a pena, mais que uma buceta, uma bela mulher”. Concordemos que é um objetivo nobre que este blog é testemunha. Talvez se eu não tivesse saído da cama naquela sexta-feira e Eriqck não confirmasse o que escutei de sua boca ainda estaria nessa peleja. Mas chega! Há alguns dias quase que dei fim a este espaço e não o fiz por dois motivos: i) já me habituei a escrever nele e é uma boa coisa e ii) tem mais gente do que eu podia imaginar que o lê. Tirando o Anderson já tive outros 50 visitantes por dia! Depois que instalei o Clicky e o Google Analytics obtive muitos números que me surpreenderam. Lembro da época que postei um vídeo que fiz com um poema de Vinícius e apareceu um monte de italianos por aqui. (Viva o Calzone de Frango com Catupiri!) Sobre a nova cara do blog, mudei o layout para dar uma revitalizada e por estar de saco cheio do velho. Acho que melhorei na habilidade que alterar os elementos da tela. Poderia ter ficado melhor se CSS e HTML não fossem tão complicados de se manipularem – uma salva de palmas aos web designers e ao GIMP! Sorte que achei sites bem servidos de tutoriais e vou até criar um grupo de links sobre tecnologia na barra lateral direita. Como também vou criar uma de blogs amigos porque tem muita coisa boa na rede para ser compartilhada. Peço para o pessoal comentar mais o blog para estabelecermos uma rede bacana e trocarmos links. Este ano irei me dedicar mais a divulgação do blog e farei mais mudanças. O nome do blog já está me cansando e em breve vou arrumar outro nome e mudar o endereço novamente. Só não sei como irei redirecionar a galera para ele depois que mudar a URL. O Idiota foi um nome que surgiu de supetão e que meus amigos gostaram e o texto do Deleuze e Guatarri foi apenas uma legitimação que hoje eu não usaria para me justificar em nenhuma decisão. Hoje diria apenas: “O idiota é legal”. Quero que o novo nome surja de supetão. Amanhã vou acordar e dizer para o telhado: “O Latão”. Depois de amanhã irei cortar o cabelo. E daqui uma semana irei me apaixonar novamente. Como disse um amigo citado acima algumas horas atrás: “Mudar é uma virtude...”

No mais, um feliz natal e um ano cheio de bucetas.

E por favor, não me tomem por chauvinista, estou sendo apenas um pouco marginal.

Mudar a cara não é muito fácil.

Este novo layout deu dor de cabeça. O conteúdo vai dar mais ainda.

14.12.07

CPMF - entendam o que ocorreu

A noite dos longos punhais

Flávio Aguiar - Agência Carta Maior

Na noite de 12 para 13 de dezembro houve um festival de punhaladas no Senado Federal. Ninguém morreu com a CPMF, é verdade. Mas houve muitos feridos. Alguns destes nem sabem ainda que foram apunhalados. Vão descobrir quando bailarem na curva, como se diz no sul.

Foi uma noite de punhaladas. O debate sobre a CPMF começou ao fim da tarde do dia 12 e terminou na madrugada do dia 13 – dia simbólico, foi o da assinatura do Ato-5, que criou a ditadura dentro da ditadura.

Houve punhaladas grosseiras, houve outras sutis, houve algumas muito, muito sutis. Houve também perplexidades. O senador Mão Santa, por exemplo, na tribuna, não conseguiu dizer coisa com coisa. A perplexidade mais eloqüente ficou por conta da expressão de surpresa, desalento e decepção do senador Sérgio Guerra, presidente do PSDB, quando na madrugada chegaram as cartas assinadas, uma pelos ministros da Fazenda e das Relações Institucionais, e a outra pelo próprio presidente Lula, se comprometendo a destinar todos os 40 bilhões anuais do imposto para a saúde. O senador Guerra sempre foi pela negociação, acabou derrotado pela intransigência do senador Artur Virgílio e também a do senador Álvaro Dias no interior do próprio partido.

Apunhalado o governo pela oposição no seu orçamento, as suas cartas tardias não deixaram também de dar uma facada, ainda que menor do que a que levou, na oposição, agora mais claramente dividida em oposições. Foi isso que o senador Guerra sentiu, e provocou-lhe a expressão facial que suas palavras não conseguiram ocultar. “Agora?”, foi o que se leu na face do senador.

Ao longo de todo o debate, coadjuvado pelas cartas, os senadores oposicionistas, mais os da base aliada que se insurgiram contra o governo, coadjuvados pelo do PSOL, não conseguiram criar uma retórica convincente, e acabaram ficando com a tintura, senão a pecha, de estarem apunhalando o Sistema Único de Saúde e o povão, em favor das empresas e dos mais ricos. A CPMF é dos poucos impostos no Brasil que não é regressivo, porque de fato progressivo nenhum é. Quem movimenta mais paga mais, ainda que a alíquota seja a mesma para todos, exceto os isentos. Não é à toa que as pessoas jurídicas – sobretudo as grandes empresas – fossem responsáveis por 72% dos 40 bilhòes anuais.

Quem saiu ganhando ou perdendo, nessa noite de punhaladas abruptas ou prolongadas?

O povão saiu perdendo, apunhalado pelos opositores do imposto. Junto com ele o SUS, o governo, que terá de recompor as verbas para a saúde e outros programas sociais. Saiu perdendo a Constituição brasileira e o próprio Senado federal, pois no afã de derrotar o governo os senadores anti-CPMF apunhalaram sua função institucional precípua, que é a de defender os estados que representam, mais os seus municípios.

Saíram ganhando as grandes empresas que, através da FIESP, se mobilizaram contra o imposto que lhes retira do aprisco quase 30 bilhões anuais, fora os gastos adicionais para pagarem a peso de ouro caríssimos tributaristas que lhes mostrem o caminho das pedras para driblar este e outros impostos.

Os grandes jornais e a mídia conservadora ficaram no empate técnico. Comemoram com discrição mais uma “trapalhada” do governo que o levou, ao apagar (ou acender, pensando-se no Natal) das luzes de 2007 sofreu uma derrota em plenário, e televisiva. Mas ficaram na defensiva, pois essa derrota do governo federal terá repercussão ainda imprevisível nos estados e nos municípios que seus favoritos governam, inclusive em São Paulo e Minas.

Comenta-se que os Democratas mais a ala dura do PSDB saíram ganhando. Aqui vêem-se, talvez, as punhaladas mais sutis da noite.

Saiu ganhando o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, cujos cordéis desde os bastidores sempre dirigiram os gestos e as falas do senador Artur Virgílio. O ex-presidente voltou a colocar-se como uma espécie de fiel da balança do seu partido, em detrimento de Serra, de Aécio, do próprio Alckmin e de Sérgio Guerra, que viu seu poder interno abalado. Este tinha a seu favor a maioria dos senadores do PSDB, pressionados pelos governadores. Apesar disso, em nome da unidade do partido, teve de ceder diante da dureza de Virgílio e Dias, que preferiram apunhalar de leve o próprio partido, acaudilhando-o aos Democratas.

Já estes desferiram uma série de punhaladas, a torto e a direito, ainda que algumas delas possam voltar-se contra eles próprios. A primeira punhalada, além da derrota em plenário imposta ao governo, foi dada nos programas sociais deste. Os ex-tudo na política conservadora brasileira, agora auto-proclamados “Democratas”, sabem que essas políticas sociais roubaram-lhes seus grandes apriscos eleitorais, que estavam sobretudo no Nordeste, visto como a fonte do “atraso” nacional. Os Democratas precisam esfarelar essas políticas sociais, reduzir novamente seu eleitorado potencial, antes que se autonomize demais e de vez, ao miserê das políticas de favor dos potentados e potentadozinhos paroquiais. Mas isso é uma tarefa de longo prazo, e duvidosa, porque passa pelas eleições municipais de 2008 e ninguém sabe se essas tentativas darão certo, num país cuja economia cresce a olhos vistos, ainda que devagar, o poder aquisitivo da população mais pobre cresce junto, os empresários investem mais, a popularidade do presidente continua nos píncaros, enfim, tudo isso de que a nossa direita não gosta nem de ouvir falar.

No mais curto prazo, então, os desassistidos de povo do DEM precisam... conquistar votos no aprisco ao lado, o dos seus aliados/concorrentes do PSDB, passando o punhal pelo menos numa grossa fatia do seu eleitorado preferencial, o da parte conservadora das classes médias, ilustradas ou não. A fatia mais à esquerda, que vota no PT, no PSOL, ou têm outras preferências, não vai aderir ao DEM, nem que o rebanho vacum de todo o Brasil morra de bronquite, de tanto tossir. O alvo dos Democratas é mesmo parte do eleitorado de seus vizinhos na votação de ontem, os tucanos, e para isso eles precisavam se demonstrar, mesmo rasgando suas funções constitucionais, os campeões contra a CPMF.

De quebra, os Democratas assestaram os punhais para as certeiras facadas que darão nas burras das grandes empresas. Como o DEM é um partido senatorial, uma vez que sua representação na Câmara não tem a importância nem a visibilidade da das velhas raposas da Câmara alta, e sua presença nos executivos estaduais se esvaziou, a manutenção deste cacife depende da eleição de 2010, quando estarão em jogo duas cadeiras por estado. E eleger um senador é muito, muito caro. Ainda mais para quem viu, em 2002 e em 2006, sobretudo, um crescente esvaziamento de seu eleitorado tradicional. Não tem jeito: além de afrontar o governo e o PT e outros partidos à esquerda, o DEM, se quiser sobreviver, terá de comer pelas bordas ou pelo núcleo, o “povo” de seus aliados. Começou a fazer isso, na votação de ontem.

Por fim, mas não menos importante, é preciso registrar que sobraram auto-facadas do governo e do PT. O governo agiu tardiamente. Não conseguiu produzir uma defesa mais conceitual da CPMF. O PT também não conseguiu. Não conseguiram uns e outros escapar também do comentário de que antes eram contra o imposto porque o governo não era deles, enquanto agora eram a favor porque estavam no Planalto, o que repete, de modo invertido, a falha que também apunhala as oposições. É verdade que se pode alegar que a CPMF fora criada, por inspiração do ex-ministro Adib Jatene, com função social precipuamente na área da saúde, e que o atual governo vinha devolvendo-lhe tal condição. Ao longo do tempo ela fora desvirtuada para ajudar a formação de superávit primário e recompensar o capital rentista, e agora ela vinha voltando a seu leito natural.

Uma última punhalada, no momento ainda virtual. Um dos possíveis roteiros das oposições seria o de transferir a pecha de “criador da CPMF”, do governo tucano de FHC para o de Lula. Isto se concretizará, numa punhalada sutil, se o atual governo reapresentar a proposta de emenda constitucional que criou o imposto, tal qual fez FHC. Mas ainda não se sabe o que fará o governo. O ministro de Relações Institucionais disse que o governo não faria isso. Se não fizer, e se conseguir dar a volta por cima ou por baixo, ou pelo lado, na manutenção dos programas sociais, o governo estará não só devolvendo a punhalada, como também puxando o tapete com que as oposições pretendem voar em direção a 2008 e 2010, mesmo que tenham que distribuir cotoveladas e punhaladas uns nos outros, como está fazendo o DEM com o PSDB.

3.12.07

TRAVESSIA


Quando você foi embora fez-se noite em meu viver
Forte eu sou mas não tem jeito, hoje eu tenho que chorar
Minha casa não é minha e nem é meu este lugar
Estou só e não resisto, muito tenho prá falar

Solto a voz nas estradas, já não quero parar
Meu caminho é de pedras, como posso sonhar
Sonho feito de brisa, vento vem terminar
Vou fechar o meu pranto, vou querer me matar

Vou seguindo pela vida, me esquecendo de você
Eu não quero mais a morte, tenho muito que viver
Vou querer amar de novo e se não der não vou sofrer
Já não sonho, hoje faço com meu braço o meu viver

Solto a voz nas estradas, já não quero parar
Meu caminho é de pedras, como posso sonhar
Sonho feito de brisa, vento vem terminar
Vou fechar o meu pranto, vou querer me matar
Vou seguindo pela vida, me esquecendo de você

Eu não quero mais a morte, tenho muito que viver
Vou querer amar de novo e se não der não vou sofrer
Já não sonho, hoje faço com meu braço o meu viver


Milton Nascimento e Fernando Brant

1.12.07

Acordar

Acordar da cidade de Lisboa, mais tarde do que as outras,
Acordar da Rua do Ouro,
Acordar do Rocio, às portas dos cafés,
Acordar
E no meio de tudo a gare, que nunca dorme,
Como um coração que tem que pulsar através da vigília e do sono.
Toda a manhã que raia, raia sempre no mesmo lugar,
Não há manhãs sobre cidades, ou manhãs sobre o campo.
À hora em que o dia raia, em que a luz estremece a erguer-se
Todos os lugares são o mesmo lugar, todas as terras são a mesma,
E é eterna e de todos os lugares a frescura que sobe por tudo.
Uma espiritualidade feita com a nossa própria carne,
Um alívio de viver de que o nosso corpo partilha,
Um entusiasmo por o dia que vai vir, uma alegria por o que pode acontecer de bom,
São os sentimentos que nascem de estar olhando para a madrugada,
Seja ela a leve senhora dos cumes dos montes,
Seja ela a invasora lenta das ruas das cidades que vão leste-oeste,
Seja
A mulher que chora baixinho
Entre o ruído da multidão em vivas...
O vendedor de ruas, que tem um pregão esquisito,
Cheio de individualidade para quem repara...
O arcanjo isolado, escultura numa catedral,
Siringe fugindo aos braços estendidos de Pã,
Tudo isto tende para o mesmo centro,
Busca encontrar-se e fundir-se
Na minha alma.
Eu adoro todas as coisas
E o meu coração é um albergue aberto toda a noite.
Tenho pela vida um interesse ávido
Que busca compreendê-la sentindo-a muito.
Amo tudo, animo tudo, empresto humanidade a tudo,
Aos homens e às pedras, às almas e às máquinas,
Para aumentar com isso a minha personalidade.
Pertenço a tudo para pertencer cada vez mais a mim próprio
E a minha ambição era trazer o universo ao colo
Como uma criança a quem a ama beija.
Eu amo todas as coisas, umas mais do que as outras,
Não nenhuma mais do que outra, mas sempre mais as que estou vendo
Do que as que vi ou verei.
Nada para mim é tão belo como o movimento e as sensações.
A vida é uma grande feira e tudo são barracas e saltimbancos.
Penso nisto, enterneço-me mas não sossego nunca.
Dá-me lírios, lírios
E rosas também.
Dá-me rosas, rosas,
E lírios também,
Crisântemos, dálias,
Violetas, e os girassóis
Acima de todas as flores...
Deita-me as mancheias,
Por cima da alma,
Dá-me rosas, rosas,
E lírios também...
Meu coração chora
Na sombra dos parques,
Não tem quem o console
Verdadeiramente,
Exceto a própria sombra dos parques
Entrando-me na alma,
Através do pranto.
Dá-me rosas, rosas,
E llrios também...
Minha dor é velha
Como um frasco de essência cheio de pó.
Minha dor é inútil
Como uma gaiola numa terra onde não há aves,
E minha dor é silenciosa e triste
Como a parte da praia onde o mar não chega.
Chego às janelas
Dos palác ios arruinados
E cismo de dentro para fora
Para me consolar do presente.
Dá-me rosas, rosas,
E lírios também...
Mas por mais rosas e lírios que me dês,
Eu nunca acharei que a vida é bastante.
Faltar-me-á sempre qualquer coisa,
Sobrar-me-á sempre de que desejar,
Como um palco deserto.
Por isso, não te importes com o que eu penso,
E muito embora o que eu te peça
Te pareça que não quer dizer nada,
Minha pobre criança tísica,
Dá-me das tuas rosas e dos teus lírios,
Dá-me rosas, rosas,
E lírios também.

Álvaro de Campos

28.11.07

Palavras

O texto é espontâneo. Brota tanto das obrigações acadêmicas quanto de um semblante leve. De um livro imposto surge uma prazerosa leitura ocasional que gera mais prazeres. Não subestime nenhum livro! (até o Paulo Coelho, que não li e não gostei...) Engraçado!, tenho usado a palavra “semblante” muitas vezes e só agora percebi isto, também uso muito “engraçado”. O gosto pela palavra “semblante” veio após uma procura no Mirador. Já a palavra “inexorável”, que gosto e nem uso tanto, surgiu d’O Amanuense Belmiro, livro imposto a princípio. Neste caso, a princípio, o dever transformado em prazer para suportar de bom grado o fardo e, por fim, o prazer lutando para não voltar a ser dever. Coexistir, talvez. Não me lembro de onde tirei boa parte das palavras que gosto. Sei que algumas foram-me dadas por pessoas que gosto em suas “casas” e “moradas”. Outras foram roubadas, “certamente”. “Resta” falar também das que abracei em momentos difíceis e deram coragem de ver os “sorrisos” como promessa e certeza de uma vida menos triste. Também ensinaram-me a versar sobre as chatices que encontramos nas diversas “esquinas” da vida. A “miséria” que veio de uma leitura de anos atrás uso para falar desses medíocres e mediocridades. Pena que tenho pouca pena e memória para usar só palavras que gosto, mas tenho imaginação para transformar cada palavra que uso em minha mais nova “namorada”.

24.11.07

iii)

O descanso não veio como eu esperava. Um mês de trabalho árduo e pouco resultado. O engraçado é que só percebo que sou outro quando tento voltar a agir normalmente. Bem, o que eu esperava deste fim de semana livre de obrigações? Não quero beber e nem me perder pela cidade. Isto já se tornou outra rotina. Se retorno à leitura, volto a olhar pela janela e pedir temporais para que a vida dos demais pare e só recomece quando eu estive livre do fardo que escolhi (isto não mais parece ser uma escolha). Não posso ficar esperando que as coisas me esperem. Também acho que não devo segui-las. O problema de tudo, aqui, é no fim das contas fazer pouca ou nenhuma diferença tanto sofrimento para se alcançar algo “bom’ ou que pelo menos nos dizem ser. Veja este diálogo: “Vem comigo?”, “Sim”, ”Então vamos”. Quantas vezes fiz o pedido que é a primeira frase. É uma frase simples. Tudo podia ser mais simples. Eu podia ser mais simples, com poucos abismos.

Em exatamente dois meses completarei mais um ano na minha vida (realmente o tempo não para) e não acredito muito que frases como essas poderão algum dia resultarem em algo. “Algum dia” não existe. A fé não quer voltar com a idade.

Rilke

O Solitário

Não: uma torre se erguerá do fundo
do coração e eu estarei à borda:
onde não há mais nada, ainda acorda
o indizível, a dor, de novo o mundo.

Ainda uma coisa, só, no imenso mar
das coisas, e uma luz depois do escuro,
um rosto extremo do desejo obscuro
exilado em um nunca-apaziguar,

ainda um rosto de pedra, que só sente
a gravidade interna, de tão denso:
as distâncias que o extinguem lentamente
tornam seu júbilo ainda mais intenso.

Rainer Maria Rilke


Tradução: Augusto de Campos

20.11.07

Se Fosse Alguma Coisa, Não Poderia Imaginar

Monotonizar a existência, para que ela não seja monótona. Tornar anódino o quotidiano, para que a mais pequena coisa seja uma distracção. No meio do meu trabalho de todos os dias, baço, igual e inútil, surgem-me visões de fuga, vestígios sonhados de ilhas longínquas, festas em áleas de parques de outras eras, outras paisagens, outros sentimentos, outro eu. Mas reconheço, entre dois lançamentos, que se tivesse tudo isso, nada disso seria meu. Mais vale, na verdade, o patrão Vasques que os Reis do Sonho; mais vale, na verdade, o escritório da Rua dos Douradores do que as grandes áleas dos parques impossíveis. Tendo o patrão Vasques, posso gozar a visão interior das paisagens que não existem. Mas se tivesse os Reis do Sonho, que me ficaria para sonhar? Se tivesse as paisagens impossíveis, que me restaria de possível ?

(...) Posso imaginar-me tudo, porque não sou nada. Se fosse alguma coisa, não poderia imaginar. O ajudante de guarda-livros pode sonhar-se imperador romano; o Rei de Inglaterra não o pode fazer, porque o Rei de Inglaterra está privado de o ser, em sonhos, outro rei que não o rei que é. A sua realidade não o deixa sentir.


Fernando Pessoa, in 'Livro do Desassossego'

14.11.07

Ser sol

Tento procurar palavras como sempre. O cansaço diz que não adianta mais. Palavras na poeira da mesa são só sujeira. Em alguns casos é como uma pá de cal. Bem, tenho um pano para isso. Há um violão me chamando, For killing the past and coming back to life. O sol da manhazinha acima de todas as nuvens negras, sempre lá. Amanhã vou acordar cedo. O sol que irradia a pedra que sou. Ser sol é o ponto. Fique comigo para sempre, seja minha namorada, não largue minha mão. Quando cheguei aqui pensei que seria mais fácil viver, que era só escrever. Infinitos bites. No mundo tem tanto medo, timidez e acanhamento de ser sol, emanar. Medo de ser jardim, de chamar as borboletas. Chegaremos lá, bem alto. Iremos planar, tomar vento na cara, precipitar sobre as pedras. Quis só a beleza, a sinceridade. Todos têm tantos problemas. Quanta infelicidade e um sol apenas. Quero saber se lê nosso mundo, se pisa na mesma grama do que eu. Não pode só eu estar só, que só eu chore. Paixão, tesão, amor, sexo, calor, nós. Esperem por mim, estou indo para onde há luz.

12.11.07

ii)

Um livro quase terminado. Um 4 X 1. Uma tarde de pensamentos chão.
Um dia de só água. Um dia de lágrimas indecisas.
Uma luta sem sentido. Uma falta de sangue.
A solidão. A desesperança. A cadência. A indiferença.
A.


Para onde estamos me levando?

2.11.07

Manuel Bandeira

PORQUINHO-DA-ÍNDIA

Quando eu tinha seis anos
Ganhei um porquinho-da-índia.
Que dor de coração eu tinha
Porque o bichinho só queria estar debaixo do fogão!
Levava ele pra sala
Pra os lugares mais bonitos, mais limpinhos,
Ele não se importava:
Queria era estar debaixo do fogão.
Não fazia caso nenhum das minhas ternurinhas...
- O meu porquinho-da-índia foi a minha primeira namorada.


NAMORADOS

O rapaz chegou-se para junto da moça e disse:
- Antônia, ainda não me acostumei com o seu corpo, com a sua cara.
A moça olhou de lado e esperou.
- Você não sabe quando a gente é criança e de repente vê uma lagarta listada?
A moça se lembrava:
- A gente fica olhando...
A meninice brincou de novo nos olhos dela.
O rapaz prosseguiu com muita doçura:
- Antônia, você parece uma lagarta listada.
A moça arregalou os olhos, fez exclamações.
O rapaz concluiu:
- Antônia, você é engraçada, você parece louca.


O EXEMPLO DAS ROSAS

Uma mulher queixava-se do silêncio do amante:
- Já não gostas de mim, pois não encontras palavras para me louvar!
Então ele, apontando-lhe a rosa que lhe morria no seio:
- Não será insensato pedir a esta rosa que fale?
Não vês que ela se dá toda no seu perfume?


BELO BELO

Belo belo belo,
Tenho tudo quanto quero.

Tenho o fogo de constelações extintas há milênios.
E o risco brevíssimo — que foi? passou — de tantas estrelas cadentes.

A aurora apaga-se,
E eu guardo as mais puras lágrimas da aurora.

O dia vem, e dia adentro
Continuo a possuir o segredo grande da noite.

Belo belo belo,
Tenho tudo quanto quero.

Não quero o êxtase nem os tormentos.
Não quero o que a terra só dá com trabalho.

As dádivas dos anjos são inaproveitáveis:
Os anjos não compreendem os homens.

Não quero amar,
Não quero ser amado.
Não quero combater,
Não quero ser soldado.

— Quero a delícia de poder sentir as coisas mais simples.


BELO BELO II

Belo belo minha bela
Tenho tudo que não quero
Não tenho nada que quero
Não quero óculos nem tosse
Nem obrigação de voto
Quero quero
Quero a solidão dos píncaros
A água da fonte escondida.
A rosa que floresceu
Sobre a escarpa inacessível
A luz da primeira estrela
Piscando no lusco-fusco
Quero quero
Quero dar a volta ao mundo
Só num navio de vela
Quero rever Pernambuco
Quero ver Bagdad e Cusco
Quero quero
Quero o moreno de Estela
Quero a brancura de Elisa
Quero a saliva de Bela
Quero as sardas de Adalgisa
Quero quero tanta coisa
Belo belo
Mas basta de lero-lero
Vida noves fora zero


ARTE DE AMAR

Se queres sentir a felicidade de amar, esquece a tua alma.
A alma é que estraga o amor.
Só em Deus ela pode encontrar satisfação.
Não noutra alma.
Só em Deus - ou fora do mundo.

As almas são incomunicáveis.


POEMA ERÓTICO

Teu corpo claro e perfeito,
- Teu corpo de maravilha
Quero possuí-lo no leito
Estreito da redondilha...

Teu corpo é tudo o que cheira...
Rosa... flor de laranjeira...

Teu corpo branco e macio
É como um véu de noivado...
Teu corpo é pomo doirado...

Rosal queimado do estio,
Desfalecido em perfume...

Teu corpo é a brasa do lume...

Teu corpo é chama e flameja
Como à tarde os horizontes...

É puro como nas fontes
A água clara que serpeja,
Que em cantigas se derrama...

Volúpia de água e da chama...

A todo momento o vejo...
Teu corpo... a única ilha
No oceano do meu desejo...

Teu corpo é tudo o que brilha,
Teu corpo é tudo o que cheira...
Rosa, flor de laranjeira...



Escrevo quando não acho o que quero ler. Por necessidade, não só para ser visto. Uma semana que me diz: "Virão muitas e muitas sem que a veja. Escreva! É o melhor que faz. Não encontrará em lugar algum o seu conforto." Bem, tenho Bandeira, não há por que escrever. Até do teu corpo claro ele fala.

28.10.07

i)

Não escreva sobre a sua vida, quem quer saber disso? Quem tu acha que é?! No máximo alguém dirá: “Sinto o mesmo, é assim que as coisas são...”, ou qualquer coisa do gênero. Você não é ninguém. Preste atenção! Não é ninguém! É para os seus poucos amigos, pais, irmãos, o direito, o Estado, para os livros de auto-ajuda, qualquer coisa que lhes interessa com o nome que você carrega desde quando te batizaram. Você é amigo, gentil, chato, insuportável, burro, pedante, bonito, assim e assado. Quantos nomes há em nossa língua para dizer como você é? São muitos. Somos muitos. Somos muitos, mais quem? Todos conhecem Orson Welles, e claro, muitas palavras são usadas para dizer quem é Orson Welles. Eu pessoalmente acho que é o maior dos gênios do cinema. Certamente há quem o ache um fake. Certamente há quem o ache esforçado. Orson Welles são muitos e é Orson Welles. Há os que tentam dizer que somos feios, inteligentes, taciturnos, altivos, cruéis, meigos. Há os que tentam te metadizer dizendo que alguém te acha belo porque pessoas brancas, altas, magras, de cabelos lisos e olhos verdes claros são tidas como belas e esse julgamento é condicionado por fatores que estão para além de nós e que estão cravados como tatuagem em nossa pele. Com um pouco de retórica e o tal do método genealógico mata-se qualquer discussão moral num tapa. As pessoas não são alegres, somos nós que as vemos alegres e nem sabemos por quê. “Mas como? Uma pessoa que é tão sorridente e bem diz a vida sempre não é alegre ela mesma?”, difícil de aceitar, não?


tem um tempinho que este texto tá aqui. nunca gostei muito dele.

27.10.07

Para A. e somente A.

Quando irá escrever novamente, A.? Preciso de algo seu.
Troco todos meus livros por algumas linhas suas.




Você está erguendo uma nova casa, A.? Um novo começo para ti?
Descobri o seu novo endereço por acaso, horas depois das linhas de cima. Irei lê-la e dessa vez não vou tentar adentrá-la.
Vida longa à sua obra.

21.10.07

One Of These Things First
Nick Drake

I could have been a sailor, could have been a cook
A real live lover, could have been a book.
I could have been a signpost, could have been a clock
As simple as a kettle, steady as a rock.
I could be
Here and now
I would be, I should be
But how?
I could have been
One of these things first
I could have been
One of these things first.

I could have been your pillar, could have been your door
I could have stayed beside you, could have stayed for more.
Could have been your statue, could have been your friend,
A whole long lifetime could have been the end.
I could be yours so true
I would be, I should be through and through
I could have been
One of these things first
I could have been
One of these things first.

I could have been a whistle, could have been a flute
A real live giver, could have been a boot.
I could have been a signpost, could have been a clock
As simple as a kettle, steady as a rock.
I could be even here
I would be, I should be so near
I could have been
One of these things first
I could have been
One of these things first.


Se o Atlético ganhar, saltem um foguete por mim. Se ela contou a alguém, em segredo, que me ama, me contem. Se o almoço de hoje for um almoço digno de um domingo , me convidem. Tá combinado! Esqueçam um pouco do Tropa de Elite e da Mônica Veloso e de qualquer desastre da TAM. Baixem esta bela canção que anima o meu domingo.

19.10.07

Tarde chuvosa


















Este cheiro de chuva é o mesmo que senti numa manhã fria. O café que passei também é o mesmo que me segura nesta pausa da leitura. São mais de 18 horas. Lá eram pouco mais que 8. Quanto sentido e como sinto o elementar.

16.10.07

III.

A surpresa causada por homens que defenderam o retorno aas palavras simples e próximas do chão, onde realmente estamos, e que basta apenas uma mudança na forma de entendê-las, entendê-las como realmente próximas, e que são o que queremos que sejam, antes de aprendermos a escondermos-nos atrás delas, antes de amprendemos a perguntar sobre todos os usos possiveis e não usarmos elas como dizemos numa mesa bar, com a mulher amada que nos vê pelas as palavras e nos ama sem fazer distinção entre você e as coisas ditas. Há apenas o osbcurecimento de uma tradição anterior a filosofia moderna, como expoentes um Montaigne, Bacon. A percepção e a inferência não criam só toda nossa novela cotidiana, todas nossas crenças, são pouco para qualquer forma de sonho, audácia, ímpeto, autenticidade, emancipação... Pergunto pela metáfora. Metáfora é o que Platão nos lega, o que toda poesia usa como suporte para criar mundos. Vislumbrar que a terra é redonda, que a felicidade é o horizonte de todos, que a tristeza é bela por tantos porquês. Todas surgiram antes de qualquer percepção. O que há em Platão são metáforas que instigaram por milênios, nada de argumentação rigorosa, sistemas, transcendentalismos. As latas de cerveja que esvazio neste momento prometeram-me metáforas descabíveis para serem pensadas por quem irá lê-las e por isso mesmo serão arrebatadoras para estes. Por que temem em ousar? Que correntes são estas em tuas asas? Beber só não é um problema quando não se quer esquecer e sim criar, criar mundos, metáforas que me sejam. Gostaria de companhia neste momento, uma que eu pudesse diante dela recitar algo de imediato, algo que seria certamente eu. Esta música que escuto agora é de uma cena de um filme em que uma jovem mulher diz a um homem, igualmente jovem: "Existe coisas que nos fogem, está além de nós..." Há um sorriso pequeno da moça, triste e irônico, ao fim da fala como um pedido de desculpas. Ele apenas a perguntou: "Por quê?" Que metáfora ele poderia dizer diante deste estado de coisas? Quem souber certamente permanecerá.

13.10.07

II.

Escrevo vagamente para os poucos que me acompanham.
Destes, os que me procuram apenas quando estão tristes são os que mais odeio. Deixam-me quando o dia amanhece e voltam para suas alegrias e prazeres, amigos e amores. A mim resta esperar que numa manhã qualquer não mais me deixarão ou que eu os deixe de vez.

Vejo que esqueci mais uma vez que prometi esquecer-te.
Sofrendo se aprende a sofrer. Por mais desesperada que uma mensagem que põe à mesa o que a falta de uma pessoa significa, nada justifica o silêncio da outra parte. E nada justifica o meu medo de dizer-te isto. Por que acha que eu não seria capaz de entender-te? Liberte-me desta dúvida.
Espero chuva para amanhã.

8.10.07

I.

Choro para descansar o corpo.
Não consigo indicar onde está a dor.
O sono aliviará.
Amanhã, não sei a hora que irei acordar,
a hora que irei voltar.

2.10.07

Fim da noite, não fim da vida

Estou sorrindo para a noite. Estou sorrindo porque faz frio e posso aquecer-me quando eu quiser. Estou sorrindo porque mesmo que essa chuva que tanto espero não venha irei até ela. Estou sorrindo porque sou uma imensa geleira apenas para quem não queira ver quem sou. Estou sorrindo porque me reescrevo corajosamente, ainda que isso exponha minha miséria com as palavras. Estou sorrindo porque o mesmo vento que balança as árvores que fito sopra o meu rosto. Estou sorrindo porque respiro calmamente este ar seco que me procura. Estou sorrindo porque descubro que o desprezo e a solidão mostram o amor que dôo ao mundo.

26.9.07

Estupor

esse súbito não ter
esse estúpido querer
que me leva a duvidar
quando eu devia crer

esse sentir-se cair
quando não existe lugar
aonde se possa ir

esse pegar ou largar
essa poesia vulgar
que não me deixa mentir

Paulo Leminski

22.9.07

Ensaios sobre Heidegger e outros

O problema de valorizar demais a linguagem, o significado, a intencionalidade, o jogo dos significantes, ou a différance, é que nos arriscamos a perder as vantagens conquistadas através da apropriação conjunta de Darwin, Nietzsche e Dewey. A partir do momento em que começamos a reificar a linguagem, começamos a ver lacunas entre o tipo de coisas que Newton e Darwin descrevem e o que Freud e Derrida descrevem, ao invés de ver apenas divisões convenientes no interior de uma caixa de ferramentas – divisões entre porções de ferramentas lingüísticas úteis para várias tarefas diferentes. Começamos a ser cativados por frases como “o inconsciente e estruturado como linguagem”, porque começamos a pensar que as linguagens precisam ter uma estrutura distintiva, completamente diversa da estrutura dos cérebros, computadores ou galáxias (ao invés de apenas concordar que alguns dos termos que usamos para descrever a linguagem podem, de fato, ser propícios para a descrição de outras coisas, tais como o inconsciente). Tomamos a irredutibilidade do intencional – a irredutibilidade das descrições de atitudes sentenciais tais como crenças e desejos a descrições do movimento de partículas elementares – como sendo de algum modo mais significativa filosoficamente do que a irredutibilidade das descrições de uma casa à descrição da madeira, ou das descrições dos animais à descrição das células.

Como argumentei no volume I, um pragmatista deve insistir que tanto a capacidade de redescrever quanto a irredutibilidade são de pouco valor. Nunca é muito difícil redescrever qualquer coisa que se queira em termos que sejam irredutíveis a – isto é, indefiníveis nos termos de – uma descrição prévia dessa coisa. Um pragmatista deve também insistir (com Goodman, Nietzsche, Putnam e Heidegger) que não há nada que seja o modo de ser das coisas nelas mesmas, sob nenhuma descrição, apartado de todo e qualquer uso no qual os seres humanos queiram inseri-las. A vantagem de insistir nesses pontos é que todo dualismo que possa surgir no decurso do caminho, toda cisão que um filósofo esteja tentando superar ou complementar, pode ser tomada como semelhante à mera diferença entre dois conjuntos de descrições da mesma porção de coisas.

“Poder ser tomada como semelhante”, nesse contexto, não está em contraste com “realmente é”. Não é como se houvesse um procedimento para descobrir quando alguém está realmente lidando com duas porções de coisas ou uma porção. Coisidade e identidade são também relativas à descrição. Nem é o caso de dizer que a linguagem realmente é apenas um liame de sinais e ruídos que os organismos usam como uma ferramenta para conseguir o que eles querem. Essa descrição nietzscheana-deweyana da linguagem não é a verdade real sobre a linguagem mais do que a descrição de Heidegger de que a linguagem é “a morada do Ser”, ou a de Derrida de que a linguagem é “o jogo das referências significantes”. Cada uma delas é somente mais uma verdade útil sobre a linguagem – mais um exemplo do que Wittgenstein chamou “lembretes para um propósito particular”.

O propósito particular atendido pelo lembrete de que a linguagem pode ser descrita em termos darwinianos é nos ajudar a abandonarmos o que, na introdução ao volume I, chamei de “representacionalismo”, bem como a distinção entre a realidade e aparência. De modo nada surpreendente, eu considero as melhores partes de Heidegger e Derrida aquelas que nos ajudam a ver a qual a aparência das coisas sob descrições não-representacionalistas, não-logocentristas - qual sua aparência quando começamos a tomar como certo que o caráter de qualquer coisa é relativo à escolha de uma descrição, e assim começamos a nos perguntar como ela pode ser útil, ao invés de como ela pode ser correta. Eu considero as piores partes de Heidegger e Derrida aquelas em que eles sugerem que finalmente apreenderam corretamente a linguagem, e a representaram acuradamente, como ela realmente é. Essa são as piores partes que deram a Paul de Man o ensejo para dizer coisas como “a literatura... é única forma de linguagem livre da falácia da expressão imedita”, e que permitiram a Jonathan Culler insistir que uma teoria a linguagem deve responder a questões sobre ”a natureza essencial da linguagem”. Essas são também as partes que induziram toda uma geração de teóricos da litteratura americanos a falar sobre a “descoberta do caráter não-referencial da linguagem”, como se Saussure, Wittgenstein, Derrida ou qualquer um tivesse mostrado que referência e representação eram ilusões(enquanto opostas ao fato de serem noções que, em certos contextos, podem proveitosamente ser dispensadas).

Se tratarmos isso simplesmente como um lembrete, ao contrário de como uma metafísica, então eu penso que o que se segue é uma boa forma de se agrupar do mesmo lado o resultado tanto da tradição Quine-Putnam-Davidson na filosofia analítica da linguagem quanto da tradição Heidegger-Derrida de pensamento pós-nietzscheano. Considere sentenças como os fios que ligam sinais e ruídos emitidos pelos organismos, fios capazes de ser associados aos fios que nós mesmos expressamos (através do processo que chamamos de “tradução”). Considere crenças desejos e intenções – atitudes sentenciais em geral – como entidades que são postuladas para ajudar a predizer o comportamento desses organismos. Agora pense nesses organismos como gradualmente evoluindo a partir do resultado da produção de fios cada vez mais longos e complicados, que os habilitam a fazer coisas que antes eram incapazes de fazer com a ajuda de fios mais curtos e simples. Agora pense em nós como exemplos de tais organismos altamente evoluídos, e em nossas esperanças mais levadas e temores mais profundos como viabilizados por, entre outras coisas, nossas capacidade de produzir os fios peculiares que fazemos. Então, pense nas quatro sentenças que precedem a esta como mais alguns exemplos de tais fios. Em penúltimo lugar, pense nas cinco sentenças que precedem a esta como um esboço da morada do Ser redesenhada, um novo domicílio para nós, pastores do Ser. Finalmente, pense nas últimas seis sentenças como ainda outro exemplo do jogo dos significantes, mais um exemplo do modo como ainda outro exemplo do jogo dos significantes, mais um exemplo do modo pelo qual o significado é infinitamente alterável através da recontextualização dos signos.

Essas últimas sete sentenças são uma tentativa de abarcar animais, Dasein e différance em uma única visão: uma tentativa de mostrar como se pode modular do elemento darwiniano, através do heideggeriano, até o derrideano sem muito esforço. Elas são também uma tentativa de mostrar que o importante nessas duas tradições, a que conflui para Davidson e que flui para Derrida, não é o que dizem, mas o que elas não dizem, o que elas evitam mais do que elas propõem. Observe que nenhuma dessas tradições menciona o sujeito cognoscente ou o objeto do conhecimento. Nenhuma delas fala sobre uma quase-coisa chamada linguagem, que funciona como intermediária entre sujeito e objeto. Nenhuma delas nos dá espaço para a formulação de problemas sobre a natureza ou a possibilidade da representação ou intencionalidade. Nenhuma delas, em resumo, nos confina ao espaço no qual a tradição representacionalista, cartesiano-kantiana, sujeito-objeto, no colocou.

Isto é tudo que essa tradições têm de bom? Todos esses pensadores eminentes estão simplesmente mostrando um caminho para a mosca sair de sua empoeirada garrafa, para sairmos de uma dilapidada morada do Ser? Sinto-me fortemente tentado a dizer: “Claro. O que mais você pensava que iria conseguir da filosofia contemporânea?” Mas isso pode soar como uma redução. E assim seria se eu estivesse negando que as obras desses homens são indefinidamente recontextualizáveis, e podem vir a ser úteis em uma variedade sem fim de contextos hoje imprevisíveis. Mas não é redução dizer: não subestimem os efeitos que ficar se debatendo no interior dessa garrafa em particular pode ter sobre a mosca. Não subestimem o que pode nos acontecer, o que nós podemos nos tornar ao sair dela. Não subestimem a utilidade do escrito meramente terapêutico, meramente “desconstrutivo”.

Ninguém pode estabelecer nenhum limite a priori para o que a mudança na opinião filosófica pode produzir, não mais do que para o que a mudança na opinião científica ou política pode fazer. Pensar que alguém pode conhecer tais limites é tão ruim quanto pensar que, aprendemos que a tradição ontoteológica exauriu suas possibilidades, nós precisamos nos apressar para reformular todas as coisas, tornar todas as coisas novas. Mudanças nas perspectivas filosóficas não são nem intrinsecamente centrais, nem intrinsecamente marginais – seus resultados tão imprevisíveis quanto as mudanças em qualquer outra área da cultura.


Ensaios sobre Heidegger e outros: escritos filosóficos II, Richard Rorty

15.9.07

Nos sabemos

Vou te escrever uma carta. Não vou mandar para o seu endereço. Vou mandar para todos. Você saberá que é para você. Não citarei o seu nome. Nem direi como é. As palavras que vou usar são as que todos usam. As nossas palavras também são as que todos usam. Você não saberá o que quero lhe dizer. Você sabe que quero dizer algo para você. Todos lerão o que foi escrito para você. Você sabe que quero que leia. Sei que me lê. Você me conhece. Eu te conheço. Sabemos da nossa fé.

9.9.07

Chamado

Meu corpo certamente não é o mesmo. Vejo que também está mudada. Porém, o cuidado que tenho com ela é o mesmo. Não é que ele renasça a cada dia. Não é que eu o recrie segundo este meu desejo de que nunca enfraqueça e termine. Ele não se atualiza jamais. Acordo pela manhã e penso nela. Isso não muda. Pela noite vivo a falta. Os dias não mudam. Os dias são sempre os mesmo em relação a esse trato. Posso até dizer que não faz sentindo a referência aos dias. Sim, estamos mais velhos. Todos os nossos acontecimentos, os tristes e os por triz, podem ser ordenados. O nosso laço, entretanto, está ao fundo. Ele possui muitas cores e formas.

8.9.07

O chato

O fim de semana não promete muito.
O Galo perde por dois para o Figueirense e a segunda divisão já está batendo na porta.
Em vez do churrasco com cachaça fiquei pra ver a parada com o povo de sempre.
Vou conversar com a minha cachorra, a Kill, e tirar os ninhos de andorinha do telhado. Parecem milhares a partir das 5 da manhã.
O único assunto que tenho é falar sobre a pilha de livros que vou tentar ler de hoje para manhã.
(Sei que não vou ler, só quero dizer que leio muito. Argh! Coisa de gente chata, pedante, e..., etc. A propósito, tem uma música boa sobre o chato do O.M. e vou colocar para vocês baixarem e ouvir. Cliquem aqui. Para quem não conhece o RapidShare é só clicar no Free, digitar o código e clicar em Download Via...)
O Galo perde por 2 a 1 e o fim de semana não promete muito.
Dizer que tudo tá ruim e que se é um merda na vida é uma boa tática para conseguir sensibilzar alguns tipos de pessoas e divertir outras. Já li certa vez que os judeus foram os primeiros que riram de si mesmos... O Woody Allen é judeu e ri de si mesmo. Se ele é engraçado é outros 500s.
A cada gol perdido pelo Atlético lembro que nada costuma dar certo. Se eu torcesse para o Figueirense o Galo tava goleando. É mais que uma questão de incompetência, é azar mesmo. Cruzcredo!
E a merda do Bilu já conseguiu ser expulso! Vai tomar no cú!*
*Errata: No caso do Atlético há um forte componente de incompetência além de mim.
A imagem de um belo pescoço com marca de biquini me acalma frente o hoje e o amanhã e a derrota do meu adorado CAM. Quer dizer, não só o pescoço, o que vai encima e embaixo também.
Opa! O Flamengo toma de 3! Menos mal.

3.9.07

Sem título I

Sem muito esforço o mundo surge como um mundo de possibilidades. É natural que quem não possui norte ou porto algum seja quem veja e conte aos outros. De tudo se pode falar se há quem se ponha próximo para escutar. Há tanto a dizer a todo momento e pouca proximidade. Tudo bem.

2.9.07

Quem é ela?

2. Seu ritmo é outro. Está sempre bem disposta quando vem da rua. Cruza as pernas e brinca com seu cabelo divertidamente. Parece até uma boa menina à primeira vista. Demos sorte de vê-la por aqui hoje. Comparece pouco à mesa. A companhia não é problema, já que todos a recebem muito bem. Quem não gosta dela? “Desculpa-me senhor, mas quem não gosta tem medo de aparecer”- interveio o anônimo. Também não sabemos bem o que ela gostaria de encontrar nessa mesa sempre bem posta por mim. Temos tudo: pão, leite, café, goiabada, manteiga de garrafa, margarina pros mais saudáveis, chá, e uma faca afiada. Ela é também sempre bem recebida por nós. Sempre há quem puxe a cadeira e lhe passe o açúcar. Só que é difícil de agradar a moça. Muito de vez em quando prova algo. É do tipo geniosa, e essas são complicadas, não é fácil fazer a vontade. Mas veja só, quando finalmente aceita um cafezinho, quando finalmente prova do queijo com goiabada some. Descruza as pernas que tão graciosamente cruzou e salta da cadeira como uma gata. Talvez seja conflituosa como uma gata. Talvez escute André Rieu. Talvez seja uma gata. Vemos ela novamente lá fora, na rua com os meninos. Voando atrás dos papagaios, chutando as bonecas, derrubando as latas e escondendo de quem irá procurá-la. Correndo e se misturando as cores e formas. Logo, logo, quando o cansaço chegar, ela irá dormi na grama. Ah!, como gosto dessa pequena. Mesmo que ela venha tomar o café amargo que passo todas as manhãs, ainda direi isso a ela. Sabe, um dia escutei aqui no cantinho da minha orelha: “Será uma bela mulher se não crescer...”

1. Como gosto de saber que pode haver o universo.

Perguntas que Pierre Bourdieu gostaria de fazer aos Amos do mundo:

Me encantaria submeter a esses pessoas tão influentes a um interrogatório similar ao que Sócrates colocava aos poderosos do seu tempo. Não estou em condições de fazê-lo, mas de qualquer maneira gostaria de propor algumas perguntas - que remetem a uma só: Amos do mundo: por acaso os senhores dominam seu domínio? Ou para dizê-lo de forma mais simples: vocês sabem o que estão fazendo e todas as conseqüências que isso traz? A essas perguntas Platão respondia com uma célebre fórmula que sem dúvida também se aplica aqui: Ninguém é malvado voluntariamente.

Nos dizem que a convergência tecnológica e econômica do áudio-visual, das telecomunicações e da informática e a confusão das redes fazem com que as proteções jurídicas se tornem completamente inoperantes e inúteis; nos asseguram que a profusão tecnológica ligada à multiplicação dos canais temáticos responderá à demanda potencial dos consumidores mais diversos e que graças a essa explosão das media choices todas as demandas receberão uma oferta adequada; em suma, que todos os gostos conseguirão ser satisfeitos. Afirmam que a competição , em especial quando está associada ao progresso tecnológico, é sinônimo de “criação”. Poderia ilustrar cada uma das minhas afirmações com dezenas de referências e citações que me fariam ser redundante.

No entanto, também nos dizem que a competição dos novos ingressantes, muito mais poderosos – que provem das telecomunicações e da informática – é tão forte que custa ao âmbito audiovisual cada vez mais resistir; que as cifras de direitos, em especial em matéria de esportes, são cada vez mais elevadas; que tudo o que produzem e fazem circular os novos grupos de comunicação tecnológica integrados economicamente – desde publicidades de televisão até livros, filmes ou jogos de televisão – deve receber o mesmo tratamento que qualquer outra mercadoria; e que este produto industrial standard tem que obedecer, portanto, à lei comum, a lei do benefício, fora de toda exceção cultural sancionada por limitações regulamentares, como o preço único dos livros ou as restrições de difusão. Nos dizem finalmente que a lei do lucro, isto é, a lei do mercado, é claramente democrática, pois outorga o triunfo ao produto escolhido pela maioria.

Deveriamos confrontar cada uma dessas “idéias” não com outra idéias – correríamos o risco de passar por ideólogos perdidos nas nuvens -, mas com fatos: à idéia da diferenciação e da diversificação extraordinária da oferta poderiamos opor a extraordinária uniformização dos programas de televisão. As múltiplas redes de comunicação tendem cada vez mais a difundir – constantemente no mesmo horário – o mesmo tipo de produtos, jogos, telenovelas, musicais comerciais, séries policiais que tanto faz que sejam francesas ou alemãs, e tantos outros produtos surgidos da busca de lucros máximos com custos mínimos; ou, em um âmbito muito diferente, a homogeneização crescente dos jornais e, sobretudo, das revistas semanais.

Outro exemplo: às “idéias” de competição e de diversificação poderiamos opor a concentração extraordinária dos grupos de comunicação. A soma das atividades de produção, de exploração e de difusão desencadeia abusos de posição dominante que favorecem os filmes da mesma empresa: a Gaumont, a Pathé e a UGC projetam 80% dos filmes presentes no mercado de Paris; seria preciso mencionar também a proliferação de cinemas multiplex que incorrem em concorrência desleal com as pequenas salas independentes, condenadas freqüentemente a fechar suas portas.

O essencial é que as preocupações comerciais e, em particular, a busca do lucro máximo no curto prazo se impõe cada vez mais no conjunto das produções culturais. Desta forma, na edição de livros – âmbito que eu estudei de perto – as estratégias dos editores se limitam a se orientar inequivocamente para o lucro; quando as editoras estão integradas por grupos multimídias, devem extrair taxas de lucro muito altas.

É o momento de começar a colocar perguntas. Falei de produções culturais. Por acaso se pode seguir falando hoje, e se poderá seguir falando amanhã, de produções culturais e de cultura? Os que constróem o novo mundo da comunicação e são construídos por eles gostam de evocar o problema da velocidade, dos fluxos de informação e das transações que se tornam cada vez mais rápidas; em parte têm razão quando pensam na circulação da informação e na rotação dos produtos. Dado isso, a lógica da velocidade e do lucro que se reúnem na busca de do lucro máximo a curto prazo – a audiência para a televisão, o número de leitores para os livros e jornais e a quantidade de espectadores para os filmes - me parecem dificilmente compatíveis com a idéia de cultura. Como dizia Ernst Gombrich, o grande historiador da arte, quando as “condições ecológicas da arte” são destruidas, esta e a cultura não tardam em morrer.

Como prova, eu poderia me contentar com mencionar o que aconteceu com o cinema italiano, que foi um dos melhores do mundo e que só sobrevive graças a um punhado de cineastas do cinema alemão e da Europa do leste ou a crise que acontece em todos os lugares com o cinema de autor pela falta, entre outras coisas, de circuitos de divulgação. Nem falemos da censura que os distribuidores podem impor a alguns filmes como o de Pierre Carles, que não por acaso era sobre a censura na mídia, como a exercida pela rádio cultural France Culture, inclusive, um dos poucos lugares de liberdade diante da pressão do mercado e do marketing editorial, que hoje está entregue à liquidação em nome da modernidade, da audiência e das conveniências midiáticas.

Só podemos comprender realmente o que significa a redução da cultura ao estado de produção comercial se recordamos como se constituíram os universos de produção das obras que consideramos universais no terreno das artes plásticas, da literatura ou do cinema. Todas as obras expostas nos museus, todas as obras da literatura que se convertem em clássicos, todos os filmes conservados nas cinematecas e nos museus de cinema são produtos de universos sociais que se consolidaram aos poucos, libertando-se das leis do mundo ordinário e, em particular, da lógica do lucro. Pensemos no seguinte exemplo: o pintor do Quatrocento teve de lutar contra os poderosos para que sua obra deixasse de ser tratada como um simples produto e avaliada em função da superficie pintada e das cores empregadas; teve que lutar para obter o direito de assinar, isto é, o direito de ser tratado como um autor; teve que lutar pela singularidade, pela unicidade, pela qualidade e graças à colaboração dos críticos, dos biógrafos e dos professores de história da arte, se impôs como artista, como “criador”.

Tudo isto se acha hoje ameaçado pela redução da obra a um simples produto ou mercadoria. As lutas atuais dos cineastas pelo final cut e contra a pretensão do produtor de reter o direito final sobre a obra são o equivalente exato dos esforços dos pintores do Quatrocento. Foram necessários quase cinco séculos para que os pintores obtivessem o direito de escolher as cores pintadas, a maneira de empregá-las e, em seguida, o direito a escolher o tema, em especial fazendo-a desaparecer, com a arte abstrata, para grande escândalo do apoderado burguês. Além disso, para ter um cinema de autor faz falta todo um universo social, pequenas salas e cinematecas que projetem filmes clássicos e que sejam freqüentadas pelos estudantes, cine clubes dirigidos por professores de filosofia formados pela frequentação dessas salas, críticas bem preparados que escrevam na revista Cahiers du Cinéma, cineastas que tenham aprendido seu ofício vendo filmes que se resenhavam nessas revistas, enfim, todo um meio social no qual um certo tipo de cinema seja reconhecido como valioso.

Estes universos sociais estão sob ameaça pela irrupção do cinema comercial e do domínio dos grandes divulgadores, com os quais tem que contar os produtores, salvo quando estes também trabalham de divulgadores: são a culminação de uma longa evolução e hoje se acham em um processo de involução.

Presenciamos uma regressão da obra ao produto, do autor ao engenheiro ou ao técnico que utiliza os famosos efeitos especiais ou recorre a grandes estrelas, recursos extremamente custosos, para manipular ou satisfazer as pulsões primárias do espectador, pulsões freqüentemente antecipadas graças às pesquisas de outros técnicos: os especialistas em marketing. No entanto, sabemos sempre que faz falta criar criadores, isto é, espaços sociais de produtores e de receptadores no interior dos quais aqueles possam aparecer, desenvolver-se e ter sucesso.

Reintroduzir o reino do comércio e do “comercial” em universos que muito lentamente se havia construído contra ele é colocar em perigo as obras mais altas da humanidade, a arte, a literatura e inclusive a ciência. Não creio que alguém realmente deseje isso. Por essa razão, no começo eu recordava a célebre fórmula platônica: “Ninguém é malvado vountariamente”. Se as forças da tecnologia aliadas com as forças da economia, com a lei do lucro e da competição ameaçam a cultura, o que podemos fazer para nos contrapormos a elas? O que podemos fazer para fortalecer as chances daqueles que só podem existir nos prazos longos, aqueles que, como os pintores impressionistas de outros tempos, trabalham para um mercado póstumo? Eu me refiro aos que se esforçam para que sobrevenha um novo espaço, em oposição aos que se submetem às exigências do mercado atual e recebem benefícios imediatos, materiais, econômicos ou simbólicos (prêmios, condecorações ou renome acadêmico).

A escolha não é entre a “globalização”, isto é, a submissão às leis comerciais e, como conseqüência, ao reino do “comercial” – que sempre se distingue do que quase universalmente se entende por cultura – e a defesa das culturas nacionais ou tal ou qual forma de nacionalismo ou localismo cultural. Os produtos kitsch da “globalização” comercial, o filme de entretenimento com efeitos especiais ou inclusive a world fiction cujos autores possam ser italianos ou ingleses, se contrapõem aos produtos da internacional literária, artística e cinematográfica cujo centro está em todos os lugares e em nenhum, mesmo se por muito tempo se encontrou em Paris, em Londres ou Nova York, sedes de uma tradição nacional de internacionalismo artístico. Assim como Joyce, Flaubert, Kafka, Beckett ou Gombrowicz, produtos puros da Irlanda, dos Estados Unidos, da Checoslováquia ou da Polônia floresceram em Paris, muitos cineastas contemporâneos como Kaurismaki, Manuel de Oliveira, Satyajit Ray, Kieslowsky, Woody Allen, Kiarostami – e tantos outros –devem suas conquistas a essa internacional literária, artística e cinematográfica situada em Paris, sem dúvida por que ali, por razões estritamente históricas, esse microcosmos de produtores, críticos e receptores informados que resulta tão vital se constituiu há muito tempo e pôde sobreviver até hoje.

Insisto: leva muito tempo criar produtores que trabalhem para mercados póstumos. Colocar, por um lado, uma “globalização” supostamente vinculada ao poderio econômico-comercial, ao progresso e à modernidade e, por outro, um nacionalismo atado a formas arcaicas de conservação da soberania não ajuda a comprender o problema. Na realidade, presenciamos uma luta entre uma potência comercial que pretende expandir universalmente os interesses particulares do comércio e de seus amos e uma resistência cultural baseada na defesa das obras universais produzidas pela internacional desnacionalizada dos criadores.

Eu gostaria de terminar com uma referência histórica também ligada à questão da velocidade e que, na minha opinião, evidencia muito bem as relações que uma arte liberada das pressões do comércio poderia manter com os poderes temporais. Conta-se que Michelangelo empregava tão poucas formas protocolares no seu vínculo com o Papa Julio II, seu apoderado, que este se via obrigado a se sentar muito rapidamente para impedir que Michelangelo se sentasse antes dele. Em certo sentido, se poderia dizer que eu tentei aqui perpetuar, muito modestamente, mas com total fidelidade, a tradição inaugurada por Michelangelo: distanciar-se dos poderes e, muito especialmente, dessas novas forças que se apóiam no dinheiro e na mídia.

(Artigo publicado no jornal Le Monde (14/12/1999) e no Libération (13/10/1999).

31.8.07

Uma manhã sóbria

Ir até o fim com os planos de quem nasceu há dois anos e se foi ontem de tanto cansaço

(Desapareceu no próprio leito)

Não é coisa minha.

Agora que se tem o endereço não há mais a vontade de mandar as flores.

Agora que se tem o telefone não há mais a vontade de surpreender com a ligação que não se espera.

A um súbito rompante de coragem, um instante de seus olhos é muito pouco para essa manhã.


Aguardar o fim do semestre,

Olhar menos as horas,

Não mais tentar sensibilizar, alcançar, amar, pela escrita,

A saída fácil de abraçar quem estar por perto.

O próximo ano será de rever a vida.


ps quando derrubou a cadeira na minha frente pensei "ela é uma graça" não exatamente com essas palavras, mais exatamente com o sorriso que dei no momento. quando me enfiei naquele carro pensei é "tão simples alcançá-la, por escrevi tanto?", não com essas palavras porque são de agora. realmente alguém morreu e dou graças a deus. me aguarde em sua mesa, não temos a escolha de evitar.

29.8.07

Este niilista aqui está começando a acreditar em destino, ou que é mais audaz do que imagina.

O que acha?

25.8.07

Para acompanhar flores

Não quero saber da verdade. Não conte o que te afligi, o que te faz ficar acordada pensando em coisas ruins – mesmo porque, não são as coisas ruins que te faz vê-las. Deixe os seus problemas prosaicos para os seus amigos, seus familiares. A estes, conte o seu dia-a-dia. A mim, o que nunca viveu. Em verdade, para mim nada te consome. Você sempre está linda e feliz. É claro que te idealizo. O que procuro é o novo, o raro, a distância do cotidiano. Não dou a mínima aos que dizem que as coisas naturalmente são belas. Não te quero ao natural, nenhuma mulher é naturalmente bela. Você sabe se fazer. Se produza, se enfeite, me fascine, me provoque. Me faça salivar e querer te comer sempre. Um rabo de saia, suas poesias e olhares, me capturaram, me fizeram. “E a tristeza, há tapete que possa escondê-la, há romance que possa sobrescrevê-la, meu amigo?” Vamos deixar esse trem de tristeza para outro momento, só quando estivermos sem a nossa beleza.

19.8.07

Narcisista



A gata e o mouse

É uma bela manhã de domingo parcialmente nublada. Foi uma ótima noite de sábado. A semana se inicia e sinto que algo de novo surge em minha vida. Veja só essa gata que está aqui do meu lado. Surgiu no muro aqui de casa há três dias, uma semana após a antiga gata, Sophia, ter morrido. A cada dia cresce a minha afeição por ela que nem nome certo tem. E ela só surgiu nas nossas vidas há três dias. Boas coisas sempre surgem.

Eterno início

Faz um bom tempo que não escrevo com intenção de publicizar. Isso tem haver, em boa parte, pela espera da nova cara do blog. Reconstruir o layout foi um bom passatempo para o fim das férias. Foi positivo a mudança porque está bem parecido com meu jeito. Tirando o rodapé, que roubei da casa de João Ivo depois de uma noite de secar garrafa de vinho sem rótulo, o resto está sem muitas cores e com um ar sóbrio. Foi necessário aprender um pouco de linguagem CSS e HTML, o que me pareceu, numa analogia imediata, um estudo de novas línguas pelo estranhamento inicial e a difícil progressão. Também tive que aprender a operar ferramentas básicas do GIMP para criar o cabeçalho e ajustar o rodapé ás proporções desejadas. Sobre o cabeçalho tem um detalhe interessante a respeito da figura escolhida. Essa figura é conhecida como cubo ilusório e existem inúmeras gravuras que o retratam. Acho uma criação fabulosa. Na minha forma de ver é um objeto que significa uma bela e rigorosa construção da razão humana, o cubo, igualmente como as formas que se pode construir a partir de retas e ângulos. No entanto, a mais prodigiosa das engenharias não seria capaz de construí-lo. Observe-o novamente. É um objeto da imaginação e, como tal, pode apenas ser perseguido. Ele é como aquele pombo que ao perceber que quanto mais alto voar menos o ar o fará resistência rejeita e se liberta de toda matéria para ganhar o espaço infinito. Está para além. O idiota segundo a idéia defendida por Deleuze e Guatarri e sintetizada pela citação que segue ao lado do cubo ilusório não poderia encontrar gravura melhor. Pensei em desenhá-lo, e ainda pretendo, mas esse desenho que encontrei na web é de um bom gosto tal que não titubeie em escolhê-lo. Espero não ter infringido o direito autoral de ninguém. O cubo também aparece no endereço do navegador e isso foi fácil de fazer. Igualmente fácil foi registrar um domínio próprio, que não é nada caro. Fiz o registro foi mais por achar o nome com a extensão .blogspot.com muito grande e deselegante. Para mim tem muita diferença entre www.oidiotatheblog.blogspot.com para www.oidiota.net. Se a URL www.oidiota.blogspot.com estivesse vaga é bem certo que não teria registrado nenhum domínio. O endereço é o de menos e tem um sem número de exemplos pela internet, dentre os bilhões que existem atualmente. Outro ponto sobre mudar algumas coisas, que esses lance de bilhões faz lembrar, é querer que O idiota não fizesse parte daquele grupo de blogs no qual apenas três ou quatro conhecidos comparecem, postam e se comentam, num inflamar mútuo de egos. Voltando ao layout, gostei muito da barra lateral, com sua nova fonte e widgets. Os marcadores que aparecem sob o título de “TEMAS” ajudaram a organizar o conteúdo que no momento está em 175 postagens. A caixa de busca, que inseri, vai propiciar uma busca mais refinada do blog - digite “buceta” ou “olhos” e veja o que aparece. Até aqui, já vejo outro motivo de ficar sem publicar por um bom tempo. Essas mudanças têm me feito achar que tenho também que mudar a escrita. Rebuscar e tratar de temas, não mais intuições, é o que comecei a achar ser mais condizente com essa, digamos, nova fase. Desde o início, acabei restringindo minhas criações a uma forma mais poética e literária, ou, sei lá!, mais introspectiva. Tenho versado mais sobre estados de angústia, esta tristeza que me acompanha, dentre outros momentos, durante a solidão da prática da escrita. Talvez a tônica dessa página seja a do samba para Cartola. Bem, não é minha intenção discorrer sobre isso agora, além do que, mudar o fazer não é tão simples. Rebuscar, ser menos passional são coisas que ainda não me concebo fazendo. Não é fácil largar um vício, não é questão apenas de vontade. Pois é. No momento o meu móbil não é desdobrar todos os pontos acima. É mais o desejo de registrar uma pequena satisfação de ter feito algo que me deixa orgulhoso.

7.8.07

Post

O endereço d'O idiota mudou para www.oidiota.net . Ele ainda pode ser acessado pela antiga URL. Mas convenhamos, o atual é bem mais fácil e elegante :)

1.8.07

Contemplação




















Fim de noite na Espírito Santo e a Tese sobre o preço da cerva que cai na proporção inversa ao aumento da numeração da rua defendida por Anderson Xavier e provada (bebida!) por nós.

24.7.07

Considere, como exemplo final, a atitude dos liberais norte-americanos contemporâneos quanto à desesperança e angústia sem fim em que vivem os jovens negros nas cidades americanas. Acaso dizemos que essas pessoas devem ser ajudadas por que são nossos companheiros seres humanos? Poderíamos fazê-lo, mas é muito mais persuasivo, tanto moral quanto politicamente, descrevê-las como nossos companheiros norte-americanos – insistir que é ultrajante para um norte-americanos ter de viver sem esperança.

Richard Rorty - Contingency, Irony, and Solidarity.

19.7.07

Soul sol

Não sou o único que tem medo da vida.
Ela deixa isso claro, todos os dias.
Certamente diz: “Aí está a manhã, não é fácil amá-la? É tão fácil amar o que é belo, amar o que todos amam. Mas não sou apenas esse sol que te acalenta. Você sabe disso, ela também”.

Nisso somos iguais.
Isso é claro.

A escrita não salva, nem mesmo consola.
Descobri que posso ser visto com algumas palavras.
Ser, por vezes, odiado e, veladamente, amado.
É por isso que insisto em escrever-te.

Insuportável é deixar de ser,
Viver diariamente este resto de dia.

2.7.07

Walking Around


Sucede que me canso de ser hombre.
Sucede que entro en las sastrerías y en los cines
marchito, impenetrable, como un cisne de fieltro
Navegando en un agua de origen y ceniza.

El olor de las peluquerías me hace llorar a gritos.
Sólo quiero un descanso de piedras o de lana,
sólo quiero no ver establecimientos ni jardines,
ni mercaderías, ni anteojos, ni ascensores.

Sucede que me canso de mis pies y mis uñas
y mi pelo y mi sombra.
Sucede que me canso de ser hombre.

Sin embargo sería delicioso
asustar a un notario con un lirio cortado
o dar muerte a una monja con un golpe de oreja.
Sería bello
ir por las calles con un cuchillo verde
y dando gritos hasta morir de frío

No quiero seguir siendo raíz en las tinieblas,
vacilante, extendido, tiritando de sueño,
hacia abajo, en las tapias mojadas de la tierra,
absorbiendo y pensando, comiendo cada día.

No quiero para mí tantas desgracias.
No quiero continuar de raíz y de tumba,
de subterráneo solo, de bodega con muertos
ateridos, muriéndome de pena.

Por eso el día lunes arde como el petróleo
cuando me ve llegar con mi cara de cárcel,
y aúlla en su transcurso como una rueda herida,
y da pasos de sangre caliente hacia la noche.

Y me empuja a ciertos rincones, a ciertas casas húmedas,
a hospitales donde los huesos salen por la ventana,
a ciertas zapaterías con olor a vinagre,
a calles espantosas como grietas.

Hay pájaros de color de azufre y horribles intestinos
colgando de las puertas de las casas que odio,
hay dentaduras olvidadas en una cafetera,
hay espejos
que debieran haber llorado de vergüenza y espanto,
hay paraguas en todas partes, y venenos, y ombligos.
Yo paseo con calma, con ojos, con zapatos,
con furia, con olvido,
paso, cruzo oficinas y tiendas de ortopedia,
y patios donde hay ropas colgadas de un alambre:
calzoncillos, toallas y camisas que lloran
lentas lágrimas sucias.


Pablo Neruda

24.6.07

Deus apenas fez a água, mas o homem fez o vinho - Victor Hugo


O homem que só bebe água tem algum segredo que pretende ocultar dos seus semelhantes -
Charles Baudelaire

17.6.07

O profano ressurge

Você me olha com os mesmos olhos de sempre. Não os entendo, como sempre fiz, como um chamado ou um trem qualquer que só existe entre nós. Estou começando a entendê-los, agora, apenas como olhos que sempre me olham e nunca vou saber o porquê. Às vezes grandes e claros, às vezes pequenos.

Não há um dia que eu não pense em você. Vem acompanhada duma tristeza. Uma tristeza leve a qual já me acostumei.

7.6.07

Um cansaço que pesa há anos me faz adormecer mais do que o tempo que me pertence. Você seguia e eu observava a paz de quem se despedia de um dia bem vivido. Angustiado sentei junto aos outros poucos que permaneceram. Se por acaso acordássemos no meio da vigília, quem sabe, não houvesse angústia. Se o mundo se move ou não, se as pessoas seguem ou fazem círculos, sobre isso quem pode dizer? Mas quem dirá que não é movimento? Você passa e eu fico, patético. Sento na grama e fito todos. Vejo também que daqui onde estou estou fora do mundo. Ou digo isso por que não posso ver seu limite e nele estou imerso e há onde não há cor? Essa segregação do mundo e esse sentimento preto e branco do mundo. Uma obra de Dreyer sem promessa de ressurreição alguma. Tem também a muda contemplação.

Nunca tinha percebido como seus traços se parecem com os de uma pintura renascentista. Tem um toque indefinível que te concede um encanto. É coisa sutil que parece ser o sorriso de um contorno, e não o contrário.

E essa promessa de que um dia vou misturar-me a todas as cores do mundo, e misturar-me também a ti.



Porque tenho que compará-la sempre a algo supremo ou maldito? Por que não digo que seu traços se parecem com nenhum outro?

5.6.07

Em dias de tristeza e tédio, nada melhor do que dormir.
Morre-se por algumas horas e reanima.

1.6.07

OLHOS NÃO SE COMPRAM

Do cinema lindo & phoda de existir e de como uma mulher pode encantar nos detalhes de nós dois. Quando ela pede pra gente virar os olhos ou fechá-los bem fechados. Só enquanto troca a calcinha, vupt, o barulhinho do elástico, mesmo com toda intimidade desse mundo, às vezes intimidade de anos, vale, vale. Só enquanto troca o sutiã, biquíni, parte de cima, ajeita a parte de baixo, areia do doce balanço da beira dos mares, só enquanto tira uma toalha do banho, primeira viagem, só enquanto está lindamente menstruada e quer guardar-se, embora saiba que atravessamos com amor e gosto todo o seu mar vermelho e ainda mais mares aparecessem a cada mês. “Feche os olhos”, diz. “Vira o rosto”, safadeza-se, diva sob seguras telhas. Só para manter o suspense do cinesmascope debaixo do mesmo teto. “Pronto, pode olhar”. Ai ela ressurge mais linda ainda, cabelinhos molhados, com aqueles cremes todos da Lancôme ou com simples sabonetes Dove ou aqueles de nove em cada dez estrelas de Hollywood, Lux, deluxe, eu morro nesses lapsos de tempo, elipses do desejo, frações de segundo que são eternas de olhos fechados para quem meus olhos na terra, que há de comê-los inté os aros dos óculos e as safenas, mais abriram e justificaram seu brilho castanho mesmo em dias de torpor e existência de pára-brisas lusco-fusco.

Xico sá

Retirado do Blog: O Carapuceiro

30.5.07

Soneto da Hora Final

Será assim, amiga: um certo dia
Estando nós a contemplar o poente
Sentiremos no rosto, de repente
O beijo leve de uma aragem fria.

Tu me olharás silenciosamente
E eu te olharei também, com nostalgia
E partiremos, tontos de poesia
Para a porta de treva aberta em frente.

Ao transpor as fronteiras do Segredo
Eu, calmo, te direi: – Não tenhas medo
E tu, tranqüila, me dirás: – Sê forte.

E como dois antigos namorados
Noturnamente triste e enlaçados
Nós entraremos nos jardins da morte.


Vinicius

27.5.07

O seu silêncio. O que silencia me reduz a observá-la e ser observado.

O seu silêncio. Por deus, é insuportável aguardar a certa não resposta.

O seu silêncio. Me mande para o inferno ou sua casa e não cale o que a mim pertence.

O seu silêncio.

24.5.07

Lembra do dia no qual não comeu nada?
Dificilmente lembrará.
Não creio que já tenha passado por esse dia.
Certamente eu não passei.

Na minha cama falta alguém.
Já os meus dias são cheios de pessoas, ombro a ombro.
Não que seja ruim, só que são, ao fim do dia, só pessoas.
Assim mesmo tenho sono e a cama ainda é confortável.

Certamente alcancei a idade na qual as coisas - que ainda são coisas por falta de universais - permanecem.

20.5.07

Quando cheguei me senti como sou, só. O momento em que cheguei foi o momento em que senti a solidão me expulsar de casa. Quis retornar para a viajem. Fugir novamente de casa (...) Me sinto só não pela falta de proximidade (...) Sinto falta de alguém que sinta só pela falta de sua escolha, eu. Alguém que me escolheu dentre todas as proximidades. (...) A minha solidão vem, também, da percepção da dispensabilidade. Não faz diferença que eu vá e não volte. Não faz diferença. Sinto com peso insustentável a escolha que fiz e a liberdade de não ser a escolha de ninguém.

Palavras com as quais se balbucia tudo: distância, falta, dor, descanso, tempo, angústia, sono, compreensão, tristeza, desejo, alegria, euforia, morte, ansiedade, paixão, necessidade, depressão, lembrança, esquecimento...

Quem conseguir estabelecer as propriedades formais da ação ou da práxis comunicativa que une eu e você, que novamente não respondeu a minha mensagem e me castiga a cada vez que me olha, terá em mãos a maior das histórias.
Tarefa que creio impossível e nem mesmo tarefa.

15.5.07

Aqui não tem copos brindando,
Nunca pendurei um quadro na parede e as paredes são todas da mesma cor,
A comida é farta com o mesmo tempero de sempre

Menos tristeza e mais resignação!

Esta mesa e o mesmo mundo preto e branco
As pessoas viajam, se acabam nas noites, andam para fora
Voltam para si, mais só de vez e quando

Maior a vida, maior são as cores...

7.5.07

O coração continua, mas triste. Que a felicidade é idealizada há milênios é mais que prova da sua dificuldade. É rara. Certamente há uma gramática profunda que faz com que me oriente teimosamente em sua direção. Esta composição que escuto From Within, Petrucci e Rudes, me conduz a um estado no qual quero permanecer e posso melhor contemplar a pequenina luz. A idéia é que não apenas interessa ligá-la aos sentimentos que suscita, o que já sei e faço, mas tentar esclarecer ou pôr a questão do porquê dessa música, sua melodia e cadência, vir a ligar-se de forma intrínseca a tais sentimentos e sensações que supostamente provoca.

Há tantas coisas que essa canção suscita além de você, minha amiga. Ela suscitou a questão posta e o dito de Frege: Ao analisar matamos.

Também há o indescritível e o impartilhável.

6.5.07

Pelo o mineiro de 2007!














Nós somos
Do Clube Atlético Mineiro
Jogamos com muita raça e amor
Vibramos com alegria nas vitórias
Clube Atlético Mineiro
Galo Forte Vingador.

Vencer, vencer, vencer
Este é o nosso ideal
Honramos o nome de Minas
No cenário esportivo mundial

Lutar, lutar, lutar
pelos gramados do mundo pra vencer
Clube Atlético Mineiro
Uma vez, até morrer

Nós somos campeões do gelo
O nosso time é imortal
Nós somos campeões dos Campeões
Somos o orgulho do Esporte Nacional

Lutar, lutar, lutar
Com toda nossa raça pra vencer
Clube Atlético Mineiro
Uma vez até morrer

notas de um dia de cão. esse é o nome do livro. um livro a duas mãos.