Sem moralismos, dinheiro e
política, andam tão juntos que fica difícil delimitar
o que é próprio de um e de outro no alcance de quaisquer fins. Quando focamos no tipo do cartola, o
futebol torna-se lamentavelmente, aqui com moralismos, uma instituição a mais a ser considerada em nossas análises sobre o Brasil. Essa figura possui em suas mãos um recurso simbólico e financeiro impar, utilizado com maestria por alguns. Um texto do Juca Kfouri do dia 10 deste mês é de interesse na discussão.
Lamentável é a posição do Cruzeiro
Diz o Cruzeiro que é “lamentável” que o Santos tenha decidido ir com os reservas para Fortaleza onde enfrentará o Ceará neste fim de semana. Tudo porque o Santos começa a poupar o que tem de melhor com vistas ao Mundial de Clubes no Japão. Ora, lamentável é o Cruzeiro estar na posição em que está, graças a um cartola que enriqueceu à custa do clube e que o abandonou depois que obteve imunidade senatorial num golpe articulado pelo ex-governador das Minas Gerais. Lamentável é o Cruzeiro ter ficado sem estádio para jogar em Belo Horizonte, graças à irresponsabilidade e incompetência de quem prometeu que o estádio da Independência ficaria pronto para substituir o Mineirão. Além do mais, como muitos já lembraram aqui, o Santos, porque enfrentaria em seguida o Peñarol pela Libertadores, jogou no primeiro turno, em Sete Lagoas, com seus reservas contra o Cruzeiro, que não reclamou, embora também não tenha vencido, só empatado, 1 a 1. O Santos tem de olhar para seus interesses e ponto final.
O Perrella é um cartola que com conseguiu não somente enriquecer, como adentrar no sistema político e rapidamente ir para o topo, ocupando uma cadeira do Senado. Bem, pode-se argumentar que o fato de ter conseguido montar um bom time durante gestões passadas o legitimaria a aceitar como prêmio um cargo político dos torcedores de seu time, mesmo que dúvidas sobre o legado, ou custos de longo prazo, que pode ter imposto ao time. O fato de feito isso nas costa do Cruzeiro é só detalhe aqui. Por exemplo, do outro lado há o Alexandre Kalil, cartola do Atlético Mineiro, que não me surpreenderia se qualquer dia aparece-se barganhando com sua imagem no mercado político como um político, precisamente como candidato a deputado federal. Como todo bom cartola, já deve negociar sua influência crescente sobre a torcida atleticana nos bastidores de um PSDB. O video abaixo é uma amostra do que digo e que Kalil e Perrera são farinha do mesmo saco - como também são um Andrés Sánchez e uma Patricia Amorim.
Observem que a coisa só cresce quando ampliamos os atores e instituições envolvidas: CBF, ANAF, o esfacelado clube dos 13, federações estaduais de futebol, os campeonatos estudais, nacionais e internacionais. Nesse vasto mercado, a fazendo de 60 milhões do Perella é mato. Os 420 milhões de impostos para o estádio do Corinthians, só não causam espanto maior que os quase 2 bilhões, até o momento, para as obras da copa. Não há como não voltarmos, quando se começa a pensar o futebol, para o dinheiro e o poder que garante sua concentração.
O futebol é algo que possui sua beleza e peso na formação moral brasileira - tem quem não goste, tem quem é indiferente, porém quem acompanha, gasta tempo e grana é a maioria. E isso não vai mudar tão cedo.