1.3.08

O que é ressaca mesmo?

Penso no rosto com que gostaria de acordar nesta manhã. O barulho desta chuva fina fez meu sono melhor. Também fez meu rosto leve. É leveza é ainda distante de como eu gostaria. O fim de noite foi duro. Fiz questão de não voltar para casa só, esperei a companhia do amanhecer. Fiz questão de chegar ao meu quarto junto com o sol: eu entrando pela porta e ele pela janela e por todas as frestas.

Pouco importa o que eu conjeture. Subitamente não a vi mais. Parecia acompanhada. Procurei um tempo em todos os quadrantes, entre todos os rosto. Suas amigas papeavam jovialmente na grama, ficou a imagem da atmosfera nobre que as envolvia. Prossegui. Vagando em círculos descobri que pouco importa se venho ou não escrever. Pouco importa preservá-la aqui, onde em mim há calor. Esta descoberta me cansou. Exausto, continuei vasculhando a festa. Não era apenas ciúmes e nem a vontade de poder libertar-me. Caso os encontrasse, você e o vulto de constituição baixa, pediria ao garçom mais uma dose do seu melhor conhaque para esquentar o peito. Bebê-lo-ia, sentado despojadamente, admirando até onde cheguei com carga tão pesada sem a lente de nenhum dos vícios herdados, sem rancor. Poderia até acenar para você, sorrindo, para que entendesse que para que eu possa ser menos triste você precisa ser feliz, seja com quem for. Sendo feliz não teria o que me escrever e menos olhar-me com a clareza de seus olhos. Pouco importa o que eu conjeture, nunca irei saber o que se passou nessa noite. Essa dúvida não é um vício herdado, é natural. É natural de quem ama.

PORRA! TUDO TEM DE SER TÃO DIFÍCIL, POR QUÊ?!!! Nem sempre o barulho da chuva e o cinza me acalmam.

27.2.08

Notas de fim de quarta

Os olhos deitados na rua. Os meus deitados procurando entender o que procura lá fora. A freiada brusca traz os olhos de volta para dentro do ônibus. Os meus, obviamente, senão não haveria relato, acompanham sua cabeça voltando-se para dentro e para o centro do carro, próximo do motorista. O ônibus arranca novamente e os seus olhos novamente fixam-se lá fora. Lá fora é imenso e não pode ser focado. O asfalto é um continuum e não pode ser focado. As árvores podem ser focadas, porém passam muito rapidamente. Eu não consigo acompanhá-las. O foco é outro. Ela talvez olhe para o vidro. Olho para o vidro e me espanto. Olho para a janela ao seu lado e o ângulo não me permite ver se lá há o que quero, o que para mim é a evidência. Não sei que evidência é essa muito menos como pode ser. Olho para o lado novamente e vejo que há alguém do meu lado. Deito meus olhos sobre o reflexo. Viro o rosto para a direita e vejo a pessoa. Ela me diz: "Você deita seus olhos sobre os olhos de outrem e o que vê? Eu. Sempre."

24.2.08

..

1. Passei meu fim de semana relendo cada palavra sua atentamente. Vi algo que se assemelha a uma resposta, uma tentativa de diálogo. Um diálogo à distância, sem voz, e com pouca esperança. Meu tom é o mesmo. Porém, não quero iniciar novamente o que já sabemos o fim: nenhum contato e um mar de mágoa. Quem pode querer isso?

2. Nossas vidas podem ser tão simples, caso queira. Não há obstáculo que pudesse ser vencido caso quisesse, sempre estive aqui. Nada é mais simples que uma carta – tem meu endereço. Nada mais simples que um telefonema – tem meu número. Nada mais simples que um encontro – tem qualquer lugar desta cidade. Nada há que seja mais simples do que digitar algumas palavras. Alguém pode não querer isso?

3. Aprendendo a seguir só e prestando atenção diariamente a suas escassas palavras - fico semanas sem saber delas por ficar semanas sem dizê-las. Nelas, o seu sussurro é o que tem de mais forte. Veja o que se desprende de meu corpo a cada vez que decido ignorá-lo e quando decido escutá-lo. Desça a página e veja o que já escorreu de mim. Assim é. Também estou cansado... Sussurro.

4. Não vou procurá-la ao menos que me procure. Sabe que é simples, que quero.

5. ...

notas de um dia de cão. esse é o nome do livro. um livro a duas mãos.