28.10.07

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Não escreva sobre a sua vida, quem quer saber disso? Quem tu acha que é?! No máximo alguém dirá: “Sinto o mesmo, é assim que as coisas são...”, ou qualquer coisa do gênero. Você não é ninguém. Preste atenção! Não é ninguém! É para os seus poucos amigos, pais, irmãos, o direito, o Estado, para os livros de auto-ajuda, qualquer coisa que lhes interessa com o nome que você carrega desde quando te batizaram. Você é amigo, gentil, chato, insuportável, burro, pedante, bonito, assim e assado. Quantos nomes há em nossa língua para dizer como você é? São muitos. Somos muitos. Somos muitos, mais quem? Todos conhecem Orson Welles, e claro, muitas palavras são usadas para dizer quem é Orson Welles. Eu pessoalmente acho que é o maior dos gênios do cinema. Certamente há quem o ache um fake. Certamente há quem o ache esforçado. Orson Welles são muitos e é Orson Welles. Há os que tentam dizer que somos feios, inteligentes, taciturnos, altivos, cruéis, meigos. Há os que tentam te metadizer dizendo que alguém te acha belo porque pessoas brancas, altas, magras, de cabelos lisos e olhos verdes claros são tidas como belas e esse julgamento é condicionado por fatores que estão para além de nós e que estão cravados como tatuagem em nossa pele. Com um pouco de retórica e o tal do método genealógico mata-se qualquer discussão moral num tapa. As pessoas não são alegres, somos nós que as vemos alegres e nem sabemos por quê. “Mas como? Uma pessoa que é tão sorridente e bem diz a vida sempre não é alegre ela mesma?”, difícil de aceitar, não?


tem um tempinho que este texto tá aqui. nunca gostei muito dele.

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notas de um dia de cão. esse é o nome do livro. um livro a duas mãos.