1.1.08

Coisas surgem... sem pressa.

Surgiu na minha cabeça há dois meses atrás.

Quieto a ficar pensando quando estou decidindo o que fazer depois de acordar, quando não trabalho, e depois do almoço. Vejo o indivíduo descer a minha rua, pegar o seu ônibus e tudo começar. Este não desce no ponto de sempre, na verdade é nesta escolha que tudo começa. Ele subitamente decidi bater na porta de quem nunca o esperava. Não podemos saber como será recebido porque não sou eu que escrevo a história de quem receberá a sua visita. Pelo que consigo antecipar, a reação será tão inesperada quanto a sua visita. Ao final daquela noite ele acordará com a cabeça ensangüentada e dentro de um carro que se acabou numa árvore. Não consegui entender o que tem haver a visita à moça e quase perder a vida num acidente e nem o que é aquela mochila cheia de papéis sujos de graça e dinheiro atrás do banco do carona. Bem, espero explicitar muitas coisas ao fim deste texto, coisas que nem nosso indivíduo saberia dizer e que nem eu poderia supor sobre os móbeis que movimentam os homens. Criou diversas estratégias para persuadir aquela moça e nunca de ir até a sua casa. Não criou, nem mesmo pensou. Em uma fração de tempo sua mão tornou-se mais pesada e puxou a corda que dá sinal para o motorista parar o ônibus e com a porta traseira aberta diante de si desceu como se alguém lhe empurrasse. Não pensou: “Vou dar sinal.” Atos insignificantes abrem portas. Mas atos insignificantes fazem com que encontremos um dedo anular dentro duma mochila cheia de papel engraxado e notas de cinqüenta? Certamente um ato dentre milhares e milhões que se acumulam na história de cada indivíduo faz com que sua vida dobre uma esquina e não retorne. Se uma viatura encontrasse o rastro do carro que desceu ladeira abaixo espatifando numa frondosa árvore e aquele dedo em seu poder não saberia explicar nada do ocorrido e dificilmente acreditariam nele já que nem alcoolizado estava. Não é uma história simples e nem próxima de revelar algo. Sobre o dedo, também não faço idéia. Ele não é das melhores pessoas deste mundo. A sua bebedeira é aceitável, até lhe dá um charme. Quando adolescente praticou vandalismo. Já se envolveu em muitas brigas. Alguns o consideram racista e homofóbico o que ele não aceita: “Tenho amigos negros e um amigo bicha”. Nasa disso, no entanto, permiti-nos inferir que pode ter arrancado o dedo de alguém ou algo pior. Os atos não precisam de bilhete para mudar a vida de alguém. Não importa quem arrancou e por que o dedo com uma aliança com o nome de uma mulher para que os dias de nosso indivíduo tome um rumo inesperado por todos. Temos duas mulheres nessa história: a que ele ama e a que o cara sem dedo carregará ainda por um tempo antes de perdê-lo.

Este é um trecho do prefácio de uma longa história.

24.12.07

Murro em ponta de faca

Um ano de muito murro em ponta de faca. Quanta sanguera! Pelo menos ganhei uma grana e comi algumas bucetas, nada de nobre, apenas necessidades. Não que eu não quisesse uma buceta apenas, é que ela não me quis, sei lá por quê. Por que os porquês? Estou vivo e é o que interessa. Nunca irei me arrepender de não ter escrito tanto a fundo perdido. Desde o início saquei que seria muito esforço para nada e continuei assim mesmo em nome de um “ela realmente vale a pena, mais que uma buceta, uma bela mulher”. Concordemos que é um objetivo nobre que este blog é testemunha. Talvez se eu não tivesse saído da cama naquela sexta-feira e Eriqck não confirmasse o que escutei de sua boca ainda estaria nessa peleja. Mas chega! Há alguns dias quase que dei fim a este espaço e não o fiz por dois motivos: i) já me habituei a escrever nele e é uma boa coisa e ii) tem mais gente do que eu podia imaginar que o lê. Tirando o Anderson já tive outros 50 visitantes por dia! Depois que instalei o Clicky e o Google Analytics obtive muitos números que me surpreenderam. Lembro da época que postei um vídeo que fiz com um poema de Vinícius e apareceu um monte de italianos por aqui. (Viva o Calzone de Frango com Catupiri!) Sobre a nova cara do blog, mudei o layout para dar uma revitalizada e por estar de saco cheio do velho. Acho que melhorei na habilidade que alterar os elementos da tela. Poderia ter ficado melhor se CSS e HTML não fossem tão complicados de se manipularem – uma salva de palmas aos web designers e ao GIMP! Sorte que achei sites bem servidos de tutoriais e vou até criar um grupo de links sobre tecnologia na barra lateral direita. Como também vou criar uma de blogs amigos porque tem muita coisa boa na rede para ser compartilhada. Peço para o pessoal comentar mais o blog para estabelecermos uma rede bacana e trocarmos links. Este ano irei me dedicar mais a divulgação do blog e farei mais mudanças. O nome do blog já está me cansando e em breve vou arrumar outro nome e mudar o endereço novamente. Só não sei como irei redirecionar a galera para ele depois que mudar a URL. O Idiota foi um nome que surgiu de supetão e que meus amigos gostaram e o texto do Deleuze e Guatarri foi apenas uma legitimação que hoje eu não usaria para me justificar em nenhuma decisão. Hoje diria apenas: “O idiota é legal”. Quero que o novo nome surja de supetão. Amanhã vou acordar e dizer para o telhado: “O Latão”. Depois de amanhã irei cortar o cabelo. E daqui uma semana irei me apaixonar novamente. Como disse um amigo citado acima algumas horas atrás: “Mudar é uma virtude...”

No mais, um feliz natal e um ano cheio de bucetas.

E por favor, não me tomem por chauvinista, estou sendo apenas um pouco marginal.

Mudar a cara não é muito fácil.

Este novo layout deu dor de cabeça. O conteúdo vai dar mais ainda.

14.12.07

CPMF - entendam o que ocorreu

A noite dos longos punhais

Flávio Aguiar - Agência Carta Maior

Na noite de 12 para 13 de dezembro houve um festival de punhaladas no Senado Federal. Ninguém morreu com a CPMF, é verdade. Mas houve muitos feridos. Alguns destes nem sabem ainda que foram apunhalados. Vão descobrir quando bailarem na curva, como se diz no sul.

Foi uma noite de punhaladas. O debate sobre a CPMF começou ao fim da tarde do dia 12 e terminou na madrugada do dia 13 – dia simbólico, foi o da assinatura do Ato-5, que criou a ditadura dentro da ditadura.

Houve punhaladas grosseiras, houve outras sutis, houve algumas muito, muito sutis. Houve também perplexidades. O senador Mão Santa, por exemplo, na tribuna, não conseguiu dizer coisa com coisa. A perplexidade mais eloqüente ficou por conta da expressão de surpresa, desalento e decepção do senador Sérgio Guerra, presidente do PSDB, quando na madrugada chegaram as cartas assinadas, uma pelos ministros da Fazenda e das Relações Institucionais, e a outra pelo próprio presidente Lula, se comprometendo a destinar todos os 40 bilhões anuais do imposto para a saúde. O senador Guerra sempre foi pela negociação, acabou derrotado pela intransigência do senador Artur Virgílio e também a do senador Álvaro Dias no interior do próprio partido.

Apunhalado o governo pela oposição no seu orçamento, as suas cartas tardias não deixaram também de dar uma facada, ainda que menor do que a que levou, na oposição, agora mais claramente dividida em oposições. Foi isso que o senador Guerra sentiu, e provocou-lhe a expressão facial que suas palavras não conseguiram ocultar. “Agora?”, foi o que se leu na face do senador.

Ao longo de todo o debate, coadjuvado pelas cartas, os senadores oposicionistas, mais os da base aliada que se insurgiram contra o governo, coadjuvados pelo do PSOL, não conseguiram criar uma retórica convincente, e acabaram ficando com a tintura, senão a pecha, de estarem apunhalando o Sistema Único de Saúde e o povão, em favor das empresas e dos mais ricos. A CPMF é dos poucos impostos no Brasil que não é regressivo, porque de fato progressivo nenhum é. Quem movimenta mais paga mais, ainda que a alíquota seja a mesma para todos, exceto os isentos. Não é à toa que as pessoas jurídicas – sobretudo as grandes empresas – fossem responsáveis por 72% dos 40 bilhòes anuais.

Quem saiu ganhando ou perdendo, nessa noite de punhaladas abruptas ou prolongadas?

O povão saiu perdendo, apunhalado pelos opositores do imposto. Junto com ele o SUS, o governo, que terá de recompor as verbas para a saúde e outros programas sociais. Saiu perdendo a Constituição brasileira e o próprio Senado federal, pois no afã de derrotar o governo os senadores anti-CPMF apunhalaram sua função institucional precípua, que é a de defender os estados que representam, mais os seus municípios.

Saíram ganhando as grandes empresas que, através da FIESP, se mobilizaram contra o imposto que lhes retira do aprisco quase 30 bilhões anuais, fora os gastos adicionais para pagarem a peso de ouro caríssimos tributaristas que lhes mostrem o caminho das pedras para driblar este e outros impostos.

Os grandes jornais e a mídia conservadora ficaram no empate técnico. Comemoram com discrição mais uma “trapalhada” do governo que o levou, ao apagar (ou acender, pensando-se no Natal) das luzes de 2007 sofreu uma derrota em plenário, e televisiva. Mas ficaram na defensiva, pois essa derrota do governo federal terá repercussão ainda imprevisível nos estados e nos municípios que seus favoritos governam, inclusive em São Paulo e Minas.

Comenta-se que os Democratas mais a ala dura do PSDB saíram ganhando. Aqui vêem-se, talvez, as punhaladas mais sutis da noite.

Saiu ganhando o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, cujos cordéis desde os bastidores sempre dirigiram os gestos e as falas do senador Artur Virgílio. O ex-presidente voltou a colocar-se como uma espécie de fiel da balança do seu partido, em detrimento de Serra, de Aécio, do próprio Alckmin e de Sérgio Guerra, que viu seu poder interno abalado. Este tinha a seu favor a maioria dos senadores do PSDB, pressionados pelos governadores. Apesar disso, em nome da unidade do partido, teve de ceder diante da dureza de Virgílio e Dias, que preferiram apunhalar de leve o próprio partido, acaudilhando-o aos Democratas.

Já estes desferiram uma série de punhaladas, a torto e a direito, ainda que algumas delas possam voltar-se contra eles próprios. A primeira punhalada, além da derrota em plenário imposta ao governo, foi dada nos programas sociais deste. Os ex-tudo na política conservadora brasileira, agora auto-proclamados “Democratas”, sabem que essas políticas sociais roubaram-lhes seus grandes apriscos eleitorais, que estavam sobretudo no Nordeste, visto como a fonte do “atraso” nacional. Os Democratas precisam esfarelar essas políticas sociais, reduzir novamente seu eleitorado potencial, antes que se autonomize demais e de vez, ao miserê das políticas de favor dos potentados e potentadozinhos paroquiais. Mas isso é uma tarefa de longo prazo, e duvidosa, porque passa pelas eleições municipais de 2008 e ninguém sabe se essas tentativas darão certo, num país cuja economia cresce a olhos vistos, ainda que devagar, o poder aquisitivo da população mais pobre cresce junto, os empresários investem mais, a popularidade do presidente continua nos píncaros, enfim, tudo isso de que a nossa direita não gosta nem de ouvir falar.

No mais curto prazo, então, os desassistidos de povo do DEM precisam... conquistar votos no aprisco ao lado, o dos seus aliados/concorrentes do PSDB, passando o punhal pelo menos numa grossa fatia do seu eleitorado preferencial, o da parte conservadora das classes médias, ilustradas ou não. A fatia mais à esquerda, que vota no PT, no PSOL, ou têm outras preferências, não vai aderir ao DEM, nem que o rebanho vacum de todo o Brasil morra de bronquite, de tanto tossir. O alvo dos Democratas é mesmo parte do eleitorado de seus vizinhos na votação de ontem, os tucanos, e para isso eles precisavam se demonstrar, mesmo rasgando suas funções constitucionais, os campeões contra a CPMF.

De quebra, os Democratas assestaram os punhais para as certeiras facadas que darão nas burras das grandes empresas. Como o DEM é um partido senatorial, uma vez que sua representação na Câmara não tem a importância nem a visibilidade da das velhas raposas da Câmara alta, e sua presença nos executivos estaduais se esvaziou, a manutenção deste cacife depende da eleição de 2010, quando estarão em jogo duas cadeiras por estado. E eleger um senador é muito, muito caro. Ainda mais para quem viu, em 2002 e em 2006, sobretudo, um crescente esvaziamento de seu eleitorado tradicional. Não tem jeito: além de afrontar o governo e o PT e outros partidos à esquerda, o DEM, se quiser sobreviver, terá de comer pelas bordas ou pelo núcleo, o “povo” de seus aliados. Começou a fazer isso, na votação de ontem.

Por fim, mas não menos importante, é preciso registrar que sobraram auto-facadas do governo e do PT. O governo agiu tardiamente. Não conseguiu produzir uma defesa mais conceitual da CPMF. O PT também não conseguiu. Não conseguiram uns e outros escapar também do comentário de que antes eram contra o imposto porque o governo não era deles, enquanto agora eram a favor porque estavam no Planalto, o que repete, de modo invertido, a falha que também apunhala as oposições. É verdade que se pode alegar que a CPMF fora criada, por inspiração do ex-ministro Adib Jatene, com função social precipuamente na área da saúde, e que o atual governo vinha devolvendo-lhe tal condição. Ao longo do tempo ela fora desvirtuada para ajudar a formação de superávit primário e recompensar o capital rentista, e agora ela vinha voltando a seu leito natural.

Uma última punhalada, no momento ainda virtual. Um dos possíveis roteiros das oposições seria o de transferir a pecha de “criador da CPMF”, do governo tucano de FHC para o de Lula. Isto se concretizará, numa punhalada sutil, se o atual governo reapresentar a proposta de emenda constitucional que criou o imposto, tal qual fez FHC. Mas ainda não se sabe o que fará o governo. O ministro de Relações Institucionais disse que o governo não faria isso. Se não fizer, e se conseguir dar a volta por cima ou por baixo, ou pelo lado, na manutenção dos programas sociais, o governo estará não só devolvendo a punhalada, como também puxando o tapete com que as oposições pretendem voar em direção a 2008 e 2010, mesmo que tenham que distribuir cotoveladas e punhaladas uns nos outros, como está fazendo o DEM com o PSDB.

3.12.07

TRAVESSIA


Quando você foi embora fez-se noite em meu viver
Forte eu sou mas não tem jeito, hoje eu tenho que chorar
Minha casa não é minha e nem é meu este lugar
Estou só e não resisto, muito tenho prá falar

Solto a voz nas estradas, já não quero parar
Meu caminho é de pedras, como posso sonhar
Sonho feito de brisa, vento vem terminar
Vou fechar o meu pranto, vou querer me matar

Vou seguindo pela vida, me esquecendo de você
Eu não quero mais a morte, tenho muito que viver
Vou querer amar de novo e se não der não vou sofrer
Já não sonho, hoje faço com meu braço o meu viver

Solto a voz nas estradas, já não quero parar
Meu caminho é de pedras, como posso sonhar
Sonho feito de brisa, vento vem terminar
Vou fechar o meu pranto, vou querer me matar
Vou seguindo pela vida, me esquecendo de você

Eu não quero mais a morte, tenho muito que viver
Vou querer amar de novo e se não der não vou sofrer
Já não sonho, hoje faço com meu braço o meu viver


Milton Nascimento e Fernando Brant

1.12.07

Acordar

Acordar da cidade de Lisboa, mais tarde do que as outras,
Acordar da Rua do Ouro,
Acordar do Rocio, às portas dos cafés,
Acordar
E no meio de tudo a gare, que nunca dorme,
Como um coração que tem que pulsar através da vigília e do sono.
Toda a manhã que raia, raia sempre no mesmo lugar,
Não há manhãs sobre cidades, ou manhãs sobre o campo.
À hora em que o dia raia, em que a luz estremece a erguer-se
Todos os lugares são o mesmo lugar, todas as terras são a mesma,
E é eterna e de todos os lugares a frescura que sobe por tudo.
Uma espiritualidade feita com a nossa própria carne,
Um alívio de viver de que o nosso corpo partilha,
Um entusiasmo por o dia que vai vir, uma alegria por o que pode acontecer de bom,
São os sentimentos que nascem de estar olhando para a madrugada,
Seja ela a leve senhora dos cumes dos montes,
Seja ela a invasora lenta das ruas das cidades que vão leste-oeste,
Seja
A mulher que chora baixinho
Entre o ruído da multidão em vivas...
O vendedor de ruas, que tem um pregão esquisito,
Cheio de individualidade para quem repara...
O arcanjo isolado, escultura numa catedral,
Siringe fugindo aos braços estendidos de Pã,
Tudo isto tende para o mesmo centro,
Busca encontrar-se e fundir-se
Na minha alma.
Eu adoro todas as coisas
E o meu coração é um albergue aberto toda a noite.
Tenho pela vida um interesse ávido
Que busca compreendê-la sentindo-a muito.
Amo tudo, animo tudo, empresto humanidade a tudo,
Aos homens e às pedras, às almas e às máquinas,
Para aumentar com isso a minha personalidade.
Pertenço a tudo para pertencer cada vez mais a mim próprio
E a minha ambição era trazer o universo ao colo
Como uma criança a quem a ama beija.
Eu amo todas as coisas, umas mais do que as outras,
Não nenhuma mais do que outra, mas sempre mais as que estou vendo
Do que as que vi ou verei.
Nada para mim é tão belo como o movimento e as sensações.
A vida é uma grande feira e tudo são barracas e saltimbancos.
Penso nisto, enterneço-me mas não sossego nunca.
Dá-me lírios, lírios
E rosas também.
Dá-me rosas, rosas,
E lírios também,
Crisântemos, dálias,
Violetas, e os girassóis
Acima de todas as flores...
Deita-me as mancheias,
Por cima da alma,
Dá-me rosas, rosas,
E lírios também...
Meu coração chora
Na sombra dos parques,
Não tem quem o console
Verdadeiramente,
Exceto a própria sombra dos parques
Entrando-me na alma,
Através do pranto.
Dá-me rosas, rosas,
E llrios também...
Minha dor é velha
Como um frasco de essência cheio de pó.
Minha dor é inútil
Como uma gaiola numa terra onde não há aves,
E minha dor é silenciosa e triste
Como a parte da praia onde o mar não chega.
Chego às janelas
Dos palác ios arruinados
E cismo de dentro para fora
Para me consolar do presente.
Dá-me rosas, rosas,
E lírios também...
Mas por mais rosas e lírios que me dês,
Eu nunca acharei que a vida é bastante.
Faltar-me-á sempre qualquer coisa,
Sobrar-me-á sempre de que desejar,
Como um palco deserto.
Por isso, não te importes com o que eu penso,
E muito embora o que eu te peça
Te pareça que não quer dizer nada,
Minha pobre criança tísica,
Dá-me das tuas rosas e dos teus lírios,
Dá-me rosas, rosas,
E lírios também.

Álvaro de Campos

28.11.07

Palavras

O texto é espontâneo. Brota tanto das obrigações acadêmicas quanto de um semblante leve. De um livro imposto surge uma prazerosa leitura ocasional que gera mais prazeres. Não subestime nenhum livro! (até o Paulo Coelho, que não li e não gostei...) Engraçado!, tenho usado a palavra “semblante” muitas vezes e só agora percebi isto, também uso muito “engraçado”. O gosto pela palavra “semblante” veio após uma procura no Mirador. Já a palavra “inexorável”, que gosto e nem uso tanto, surgiu d’O Amanuense Belmiro, livro imposto a princípio. Neste caso, a princípio, o dever transformado em prazer para suportar de bom grado o fardo e, por fim, o prazer lutando para não voltar a ser dever. Coexistir, talvez. Não me lembro de onde tirei boa parte das palavras que gosto. Sei que algumas foram-me dadas por pessoas que gosto em suas “casas” e “moradas”. Outras foram roubadas, “certamente”. “Resta” falar também das que abracei em momentos difíceis e deram coragem de ver os “sorrisos” como promessa e certeza de uma vida menos triste. Também ensinaram-me a versar sobre as chatices que encontramos nas diversas “esquinas” da vida. A “miséria” que veio de uma leitura de anos atrás uso para falar desses medíocres e mediocridades. Pena que tenho pouca pena e memória para usar só palavras que gosto, mas tenho imaginação para transformar cada palavra que uso em minha mais nova “namorada”.

notas de um dia de cão. esse é o nome do livro. um livro a duas mãos.