28.10.07

i)

Não escreva sobre a sua vida, quem quer saber disso? Quem tu acha que é?! No máximo alguém dirá: “Sinto o mesmo, é assim que as coisas são...”, ou qualquer coisa do gênero. Você não é ninguém. Preste atenção! Não é ninguém! É para os seus poucos amigos, pais, irmãos, o direito, o Estado, para os livros de auto-ajuda, qualquer coisa que lhes interessa com o nome que você carrega desde quando te batizaram. Você é amigo, gentil, chato, insuportável, burro, pedante, bonito, assim e assado. Quantos nomes há em nossa língua para dizer como você é? São muitos. Somos muitos. Somos muitos, mais quem? Todos conhecem Orson Welles, e claro, muitas palavras são usadas para dizer quem é Orson Welles. Eu pessoalmente acho que é o maior dos gênios do cinema. Certamente há quem o ache um fake. Certamente há quem o ache esforçado. Orson Welles são muitos e é Orson Welles. Há os que tentam dizer que somos feios, inteligentes, taciturnos, altivos, cruéis, meigos. Há os que tentam te metadizer dizendo que alguém te acha belo porque pessoas brancas, altas, magras, de cabelos lisos e olhos verdes claros são tidas como belas e esse julgamento é condicionado por fatores que estão para além de nós e que estão cravados como tatuagem em nossa pele. Com um pouco de retórica e o tal do método genealógico mata-se qualquer discussão moral num tapa. As pessoas não são alegres, somos nós que as vemos alegres e nem sabemos por quê. “Mas como? Uma pessoa que é tão sorridente e bem diz a vida sempre não é alegre ela mesma?”, difícil de aceitar, não?


tem um tempinho que este texto tá aqui. nunca gostei muito dele.

27.10.07

Para A. e somente A.

Quando irá escrever novamente, A.? Preciso de algo seu.
Troco todos meus livros por algumas linhas suas.




Você está erguendo uma nova casa, A.? Um novo começo para ti?
Descobri o seu novo endereço por acaso, horas depois das linhas de cima. Irei lê-la e dessa vez não vou tentar adentrá-la.
Vida longa à sua obra.

21.10.07

One Of These Things First
Nick Drake

I could have been a sailor, could have been a cook
A real live lover, could have been a book.
I could have been a signpost, could have been a clock
As simple as a kettle, steady as a rock.
I could be
Here and now
I would be, I should be
But how?
I could have been
One of these things first
I could have been
One of these things first.

I could have been your pillar, could have been your door
I could have stayed beside you, could have stayed for more.
Could have been your statue, could have been your friend,
A whole long lifetime could have been the end.
I could be yours so true
I would be, I should be through and through
I could have been
One of these things first
I could have been
One of these things first.

I could have been a whistle, could have been a flute
A real live giver, could have been a boot.
I could have been a signpost, could have been a clock
As simple as a kettle, steady as a rock.
I could be even here
I would be, I should be so near
I could have been
One of these things first
I could have been
One of these things first.


Se o Atlético ganhar, saltem um foguete por mim. Se ela contou a alguém, em segredo, que me ama, me contem. Se o almoço de hoje for um almoço digno de um domingo , me convidem. Tá combinado! Esqueçam um pouco do Tropa de Elite e da Mônica Veloso e de qualquer desastre da TAM. Baixem esta bela canção que anima o meu domingo.

19.10.07

Tarde chuvosa


















Este cheiro de chuva é o mesmo que senti numa manhã fria. O café que passei também é o mesmo que me segura nesta pausa da leitura. São mais de 18 horas. Lá eram pouco mais que 8. Quanto sentido e como sinto o elementar.

16.10.07

III.

A surpresa causada por homens que defenderam o retorno aas palavras simples e próximas do chão, onde realmente estamos, e que basta apenas uma mudança na forma de entendê-las, entendê-las como realmente próximas, e que são o que queremos que sejam, antes de aprendermos a escondermos-nos atrás delas, antes de amprendemos a perguntar sobre todos os usos possiveis e não usarmos elas como dizemos numa mesa bar, com a mulher amada que nos vê pelas as palavras e nos ama sem fazer distinção entre você e as coisas ditas. Há apenas o osbcurecimento de uma tradição anterior a filosofia moderna, como expoentes um Montaigne, Bacon. A percepção e a inferência não criam só toda nossa novela cotidiana, todas nossas crenças, são pouco para qualquer forma de sonho, audácia, ímpeto, autenticidade, emancipação... Pergunto pela metáfora. Metáfora é o que Platão nos lega, o que toda poesia usa como suporte para criar mundos. Vislumbrar que a terra é redonda, que a felicidade é o horizonte de todos, que a tristeza é bela por tantos porquês. Todas surgiram antes de qualquer percepção. O que há em Platão são metáforas que instigaram por milênios, nada de argumentação rigorosa, sistemas, transcendentalismos. As latas de cerveja que esvazio neste momento prometeram-me metáforas descabíveis para serem pensadas por quem irá lê-las e por isso mesmo serão arrebatadoras para estes. Por que temem em ousar? Que correntes são estas em tuas asas? Beber só não é um problema quando não se quer esquecer e sim criar, criar mundos, metáforas que me sejam. Gostaria de companhia neste momento, uma que eu pudesse diante dela recitar algo de imediato, algo que seria certamente eu. Esta música que escuto agora é de uma cena de um filme em que uma jovem mulher diz a um homem, igualmente jovem: "Existe coisas que nos fogem, está além de nós..." Há um sorriso pequeno da moça, triste e irônico, ao fim da fala como um pedido de desculpas. Ele apenas a perguntou: "Por quê?" Que metáfora ele poderia dizer diante deste estado de coisas? Quem souber certamente permanecerá.

13.10.07

II.

Escrevo vagamente para os poucos que me acompanham.
Destes, os que me procuram apenas quando estão tristes são os que mais odeio. Deixam-me quando o dia amanhece e voltam para suas alegrias e prazeres, amigos e amores. A mim resta esperar que numa manhã qualquer não mais me deixarão ou que eu os deixe de vez.

Vejo que esqueci mais uma vez que prometi esquecer-te.
Sofrendo se aprende a sofrer. Por mais desesperada que uma mensagem que põe à mesa o que a falta de uma pessoa significa, nada justifica o silêncio da outra parte. E nada justifica o meu medo de dizer-te isto. Por que acha que eu não seria capaz de entender-te? Liberte-me desta dúvida.
Espero chuva para amanhã.

8.10.07

I.

Choro para descansar o corpo.
Não consigo indicar onde está a dor.
O sono aliviará.
Amanhã, não sei a hora que irei acordar,
a hora que irei voltar.

notas de um dia de cão. esse é o nome do livro. um livro a duas mãos.