2.4.08

A procura de uma imagem que emocione

Hoje vi Carine passando pelo corredor. Eu, de longe, a acompanhei até que desaparecesse pela porta - provavelmente ela estava indo para a faculdade de educação. Uma imagem que me emocionou. Quando ela passou pela portaria do segundo andar e minha vista não conseguiu mais acompanhá-la, voltei-me para trás e vi que eu agora fazia parte de um outro mundo, um mundo que escolhi. O mundo que era de carne e osso à época de Carine hoje é uma vaga idéia que por mais que eu me esforce não consigo querê-lo novamente. É apenas uma história a ser contada. O mundo que quero construir hoje não a cabe. Cabe unicamente a pergunta de como seria minha vida se eu não descobrisse a única pessoa que sei que me lê. Nada garante que para qualquer pergunta formulada haja resposta e para essa certamente há apenas o desejo de uma vida um pouco mais leve.

Hoje decidi retornar a velha rotina de chegar à biblioteca pelo inicio da tarde e ser o último a deixá-la. Hoje foi um dia tão produtivo. Citarei um trecho que li e me casou admiração.

“No que diz respeito à esfera do ordinary, ela não significa certamente ir à agência do correio e expedir uma carta. Mas, mais propriamente que a vida é algo diferente de ficção ou ilusão. A ilusão, ao contrário, é a enorme construção intelectual que nos faz crer que o mundo e a vida são uma ilusão: isso é o que diz Wittgenstein, a meu ver.” Hilary Putnam em A Filosofia Americana: Conversações.

O simples ato de ir para casa ao invés de seguir para um bar é a escolha de dedicar-se a solidão. Realmente a gozo e me inspiro a descrevê-la e compreendê-la. No primeiro caso, a solidão é-me sempre imposta. Vou a determinados lugares para dela fugir. E ela está lá a esperar-me acompanhada das pessoas de sempre. Como podem ser tão alegres essas pessoas? Hoje preferi dedicar-me a minha pequena obra que lentamente irei transformá-la na Nova York, cinzenta de concreto e fumaça de George Tice que, mesmo sem nada de romântica, é de carne e osso.

À espera de uma nova oportunidade de ver Milton cantar.

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notas de um dia de cão. esse é o nome do livro. um livro a duas mãos.