26.7.06

Ele ficará nesta cidade até que acabe com o livro. Ele sempre faz isto: chega em uma cidade qualquer e lê um livro. Não, ele não tem livro algum. Perceba que ele traz pouca bagagem poucas roupas e o sapato que está em seus pés. Imagine se ele tivesse de carregar todos os livros que já leu. Imagine uma biblioteca e veja o tamanho da mala dele. Ele tem que ler. Em cada cidade que chega procura a biblioteca. Lá acha todo livro que procura, o que nunca viu ou ouviu falar. A tantos livros no mundo e tantas bibliotecas em seu caminho. Escolhe um livro de acordo com o seu humor sem muita cerimônia e senta numa mesa próxima ao sol da manhã fria e distante da janela ao frio da noite. Gosta de bibliotecas com muitas e poucas mesas e pouco barulhentas. Biblioteca e crianças se vêem, por isso nunca espera encontrar silêncio. Ele senta e lê. Um livro pode demorar dias semanas um pequeno romance. Não há pressa. Uma cidade um livro. Não há por que comprar livros se o que ele quer são a biblioteca e os livros da biblioteca. Já há bibliotecas suficientes e livros suficientes para jamais serem todos lidos por ele. Há tempo suficiente para que ele conheça todas as bibliotecas que ele puder conhecer. Há tempo para que ele leia todos os livros que ele puder ler. Sempre haverá tempo para terminar o livro que ele fizer seu. Ele não deixará esta cidade até que termine o seu livro, porque já a deixou uma vez sem terminar o seu livro. Voltou a esta cidade esta biblioteca este seu livro por acabar. O livro está inacabado e a sua vida inacabada porque nunca passou por uma cidade sem acabar um livro. Outra vida inacabada está naquela biblioteca, outro livro a ser acabado. Talvez nunca terminem o livro ou talvez nunca terminem o livro. Como um livro qualquer é um livro qualquer quando se inicia e não um livro qualquer quando não se termina.

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notas de um dia de cão. esse é o nome do livro. um livro a duas mãos.