Minha paixões, singulares, citam Pessoa nos fins de semana.
Uma delas, vejo na cadeira da cantina com o mesmo olhar perdido de sempre, que por vezes me achava, e sem poder espiralar.
Outra delas, vejo muito eventualmente quando me digita um "oi" ou "olá", e acho que ela ficou desfocada.
Esquisito, cito Pessoa para as minhas paixões.
Sonhos Prometedores
Tenho mais pena dos que sonham o provável, o legítimo e o próximo, do que dos que devaneiam sobre o longínquo e o estranho. Os que sonham grandemente, ou são doidos e acreditam no que sonham e são felizes, ou são devaneadores simples, para quem o devaneio é uma música da alma, que os embala sem lhes dizer nada. Mas o que sonha o possível tem a possibilidade real da verdadeira desilusão. Não me pode pesar muito o ter deixado de ser imperador romano, mas pode doer-me o nunca ter sequer falado à costureira que, cerca da nove horas, volta sempre a esquina da direita. O sonho que nos promete o impossível já nisso nos priva dele, mas o sonho que nos promete o possível intromete-se com a própria vida e delega nela a sua solução. Um vive exclusivo e independente; o outro submisso das contingências do que acontece.
Fernando Pessoa, in 'O Livro do Desassossego'
3 comentários:
Really amazing! Useful information. All the best.
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Salve Luciano!
De quando em vez venho me desalterar com a àgua clara do teu xafariz, depois, sentado num canto de sua casa, eu contemplo a vista.
Agradeço você por mante-la assim aberta.
Merci, gentil troubadour,
jax
Fique à vontade, já vou passar um café para nós.
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