22.12.05

Hoje em dia os costumes mudaram, e lhes parecerá inconcebível que se possa enamorar assim de uma qualquer, sem ter convivido com ela. No entanto, graças àquela solução inconfundivelmente sua que permanecia na àgua marinha e que as ondas punham à minha disposição, recebia uma quantidade de informações sobre ela que vocês nem podem imaginar! Não as informações superficiais e genéricas que agora se obtêm ao ver, ao cheirar, ao tocar ou ao ouvir a voz, mas informações sobre o essencial, com as quais podia depois trabalhar demoradamente usando a imaginação. Podia imaginá-la com uma precisão minuciosa, e não tanto pensar em como era feita, o que seria um modo banal e grosseiro de imaginá-la, mas imaginar como, não tendo forma, ela seria se, transformada, adquirisse umas das infinitas formas possíveis, permanecendo, porém, sempre ela mesma. Ou seja, não que imaginasse as formas que ela teria podido adquirir, antes imaginava a qualidade particular que ela, adquirindo-a, teria dado àquelas formas.

Trecho do capítulo ou conto, sei lá!, A espiral que está no livro As cosmicômicas de Italo Calvino.

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notas de um dia de cão. esse é o nome do livro. um livro a duas mãos.