22.9.08

O pensamento que exercitamos é do tipo traçar uma reta sobre tudo que acontece e chamá-lo de entendimento. Se esse traço não pode ser descrito linearmente como no caso em que o fim do dia não possui razão alguma de ser, está a deriva, usamos que não há sentido e coerentemente alguns chegam a supor que a impossibilidade de se traçar linearmente é o fim da linha.

A imagem mais utilizada é a das ondas num espelho d'água. Lembra daquela pedra que lançou naquele dia há muito tempo, ainda era criança, e produziu muitos circulos que começavam de um pequenino e se expandiam perfeitamente até as bordas da piscina ou do rio? Aquela é a imagem da vida que todos querem: linear. Lembro perfeitamente que depois de lançar a minha pedra no rio veio uma outra criança e lançou a sua pedra também. As ondinhas que surgiram encontraram-se com as minhas que se expandiam linearmente. Cruzaram-se linearmente. A linearidade era perfeitamente percebida por nós. Outras crianças vieram e, sem que pedissem, arremessaram suas pedras. Ondas diversas se cruzavam. Não sabia ainda que isso era o mundo. Não discerni mais quais eram as minhas ondas e como se propagavam. Tudo ficou confuso e estranho. Não reconhecinha mais nada. A criança que arremessou logo depois de mim foi embora, para ela não havia mais graça onde não se reconhecia. Dava-lhe razão: se apenas houvesse nós no mundo ele seria perfeito, seria como as ondas que, dado o movimento linear inerente ao início da série, eu podia antever onde chegariam. Havia tão somente não-linearidade. Não aceitava a falta de entendimento e procurei outras águas que sempre seriam pertubadas por outras pessoas.

As pessoa do meu meio acadêmico tentam sempre o mesmo ridicularmente: apontar para o mundo humano e dizer qual é a reta. A inventividade é o que os distingui.

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notas de um dia de cão. esse é o nome do livro. um livro a duas mãos.